segunda-feira, 13 de agosto de 2007

DALI E CESARINY


WELCOME TO ELSINORE

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mão e as paredes de Elsinore

E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar


A minha boca
sabe à tua boca

A minha boca perdeu a memória
não pode falar as palavras
entram no seu túnel
e não é preciso segui-las

disse que és alto
alto
branco e despovoado


A liberdade conhece-se pelo seu fulgor.
Quatro homens livres não são mais liberdade do que um só. Mas são mais reverbero no mesmo fulgor.
Trocar a liberdade em liberdades é a moda corrente do libertino.
Pode prender-se um homem e pô-lo a pão e água. Pode tirar-se-lhe o pão e não se lhe dar a água. Pode-se pô-lo a morrer, pendurado no ar, ou à dentada, com cães. Mas é impossível tirar-lhe seja que parte for da liberdade que ele é.
Ser-se livre é possuir-se a capacidade de lutar contra o que nos oprime. Quanto mais perseguido mais perigoso. Quanto mais livre mais capaz.
Do cadáver dum homem que morre livre pode sair acentuado mau cheiro - nunca sairá um escravo.
Autoridade e liberdade são uma e a mesma coisa.


No rico reino dos ondatras
sobre os campos da batalha
sob o aparente reinado
da massa
o dedo trémulo de uma criança
luta contra a dor silenciosa de sempre
subindo ás maiores alturas
novos e estranhos náufragos em gozo de licença
quatro homens
que olham
enquanto
por todos os lados
quatro cadáveres
passam

Katyn?
grande descoberta!

O homem encontra
com tão pouco esforço
o pus o sangue
a peste a guerra

9 comentários:

wind disse...

Sublime post!
Beijos

Entre linhas disse...

Textos profundos com belo enquadramento de imagens,muito sublimes.
bjs Zita

avelaneiraflorida disse...

PAPAGUENO!!!!!!!

LINDISSIMO!!!!!! Eu nem me atrevo, depois disto, a fazer mais nada...

"BRIGADOS"
Bjks

Gasolina disse...

Pelo menos se não descer a Lisboa, já aqui tomei um gostinho...

beijinhos.

Anônimo disse...

Este nosso Bairro...No seu Melhor...Haja Cultura Meu Amigo.
Um Abraço

Maria Romeiras disse...

Boa composição. Dois génios. Três, que o que une também faz parte da composição... Um beijinho.

RIC disse...

Mais uma excelente ligação entre textos poderosos e imagens de suster a respiração! Parabéns, meu caro! É também de artista este trabalho!
Abraço! :-)

Para meditar:

«Ser-se livre é possuir-se a capacidade de lutar contra o que nos oprime. Quanto mais perseguido mais perigoso. Quanto mais livre mais capaz.»

João Roque disse...

Fantástico post, sobre um "casamento" extremamente oportuno.
Espero que não te importes que linque o teu blog na minha lista.
É bom ir-te lendo...
Abraço.

lady.bug disse...

fantástico
gosto de vir aqui e encher a vista de boa música, poesia...

BB