domingo, 12 de agosto de 2007
ODE
Eis-me nu e singelo!
Areia branca e o meu corpo em cima.
Um puro homem, natural e belo.
De carne que não peca e que não rima.
A linha do horizonte é um nível quieto;
As velas, de cansaço, adormeceram;
E penas brancas, que eram luto preto,
Perderam-se no azul de onde vieram.
Sol e frescura em toda a grande praia
Onde não pode haver agricultura;
Esterilidade limpa, que não caia
De pão e vinho a cósmica fartura
Dançam toninhas lúdicas no céu
Que visitam ligeiras e felizes;
Uma força sonânbula as ergueu,
Mas seguras à seiva as das raizes.
Nem paz nem guerra, nem desarmonia;
O sexo alegre, mas a repousar;
Um pleno, largo e caudaloso dia,
Sem horas e minutos a passar.
Vem até mim, onda que trazes vida!
Soro da redenção!
Vem como o sangue doutra mãe pedida
Na hora de dar mundo ao coração!
Miguel Torga
"Poesia Completa"
Públicações D. Quixote.
Foto: Carla Salgueiro, Olhares.com
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7 comentários:
Sim,hoje todos teremos uma palavra nesta HOMENAGEM...
Começaste, papagueno...agora seguiremos nós!!!!!
UM BOM DOMINGO!
BJKS
Vem até mim, onda que trazes vida...
Um Abraço
Espectaculares escolhas de poema e foto:)
Beijos
Bem escolhido, Papagueno. Pergunto-me se não seria interessante analisar as escolhas que os bloggers portugueses fizeram de Torga neste seu dia. É nestas ocasiões que se sente a força que nos faz escrever e divulgar o que faz parte da nossa integridade cultural. Lembrar é diferente de não esquecer... Um beijinho.
Homenagem mais completa do que a tua, ainda não tinha visto na blogosfera!
O grande Torga merece.
Abraço.
AMIGO
A SITUAÇÃO ESTÁ COMPLICADA,
ESTOU COM UMA CRISE AGUDA - GRAVE
E
nos 2 Hospitais onde fui,
ontem
e
hoje
apenas têm suspeitas de algo,
não chegam a nenhuma conclusão.
ESTÁ
A
SER
HORRÍVEL
PARA
MIM,
no aspecto físico, muitas dores, febre...suores, e a outro nível desespero, pânico, sentimento de abandono, ansiosa, aflita...
No final da tarde de domingo fui de charola para o hospital, estou a chegar, depois de umas injecções para as dores
NÃO
VAI
S
E
R
POSSÍVEL
V
I
S
I
T
A
R
OS VOSSOS BLOGUES,
como eu desejaria.
Estou em falha.
Beijos.
Esta Ode é um daqueles poemas de Torga que me «agarram»... Não serão muitos, mas os que são, são no mínimo excelentes!
Senhor de um discurso poético livre de complicações, a sua poesia é tanto mais bela quanto é «simples» e profunda ao mesmo tempo.
Obrigado! :-)
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