quinta-feira, 2 de agosto de 2007

VEJAM BEM



Vejam bem
que não há só gaivotas em terra
quando um homem se põe a pensar
quando um homem se põe a pensar

Quem lá vem
dorme à noite ao relento na areia
dorme à noite ao relento no mar
dorme à noite ao relento no mar

E se houver
uma praça de gente madura
e uma estátua
e uma estátua de de febre a arder

Anda alguém
pela noite de breu à procura
e não há quem lhe queira valer
e não há quem lhe queira valer

Vejam bem
daquele homem a fraca figura
desbravando os caminhos do pão
desbravando os caminhos do pão

E se houver
uma praça de gente madura
ninguém vem levantá-lo do chão
ninguém vem levantá-lo do chão

Vejam bem
que não há só gaivotas em terra
quando um homem
quando um homem se põe a pensar

Quem lá vem
dorme à noite ao relento na areia
dorme à noite ao relento no mar
dorme à noite ao relento no mar

José Afonso
Cantares do Andarilho, 1968

9 comentários:

Gi disse...

Nem preciso ler para a saber de cor. Depois de uma ausência sabe bem abrir um blo e ter esta recepção .

Um beijo para ti

outro para ele. onde quer que esteja.

Luís Galego disse...

esta música, entre muitas outras de José Afonso, nunca me deixam indiferente...

SA disse...

essa gaivota de repente mais parecia uma águia. mas uma vez mais: um belo poema :)

Moura ao Luar disse...

E eu gosto tanto de ouvi-las...

papagueno disse...

Uma águia? És mazinha SA...
Sinceramente, a mim parece-me mais um corvo albino :)
Beijocas

CORCUNDA disse...

A minha canção preferida do Zeca! Pena é que as palavras não tenham o significado e impacto que deveriam ter nos tempos que correm, mas a mensagem mantém-se ETERNA!
Abraço.

BF disse...

Sempre a mexeres com as nossas memórias recentes...

Vejam bem..
Como estamos saudosos de palavras e imagens de intervenção...

Beijinhos
BF

avelaneiraflorida disse...

Cheguei no fim do dia...para abrir noite com um dos poemas mais lindos que um ser humanos escreveu!!!!

"BRIGADOS", papagueno, por este post!

Bjks

Maria Romeiras disse...

Lindo! Intervenção no Bairro do Amor. Nada mais natural para nos sentirmos em casa. Zeca, o nosso irmão. Bom estar aqui. Um beijo.