quarta-feira, 31 de outubro de 2007

BAUDELAIRE

As Metamorfoses do Vampiro

Da mulher, no entanto, com a sua boca de morango,
Meneando-se como uma serpente sobre brasas,
Seus seios excitando-se no ferro do seu espartilho,
Corria um fio de palavras com odor acre a sexo feminino:
«Repara como meus lábios estão húmidos. Sei levar
Um homem, no fundo de um leito, ao mais antigo desvario.

Meus seios triunfantes secam todas as lágrimas,
E mesmo dos velhos tiro risos de crianças.
Nua, e sem véus para que me olhe, sou
Nesse momento lua e sol, céu e estrelas! Firmamento!
Tu és perito, mas eu tenho a ciência expedita da volúpia,
Quando te afago nos meus braços terríveis
Ou te dou a mordiscar meu busto,
Tímida e libertina, frágil e robusta,
Nesta cama onde te dás até ao grito,
Os anjos impotentes trocariam de alma para trocar contigo!»

Quando senti que toda a energia me fora sugada
E languidamente me voltei para ela
Para retribuir com um beijo de amor,
Apenas vi um vaso bojudo viscoso cheio de miasmas!
Calmo, apesar do terror, fechei os olhos
E, quando já mais claro, os voltei a abrir,
A meu lado, em vez do feminino de força ardente ,
Que parecia ter-se da minha energia alimentado,
Apenas tiniam confusos restos de um esqueleto
Que autómatos gemiam como cata-ventos
Ou uma tabuleta, suspensa num triângulo de ferro,
Que baloiça ao vento nas noites de Inverno.

Baudelaire
"Les Fleurs du Mal"
Tradução: Maria Gabriela Llansol


Sépulture

Si par une nuit lourde et sombre
Un bon chrétien, par charité,
Derrière quelque vieux décombre
Enterre votre corps vanté,

A l'heure où les chastes étoiles
Ferment leurs yeux appesantis,
L'araignée y fera ses toiles,
Et la vipère ses petits;

Vous entendrez toute l'année
Sur votre tête condamnée
Les cris lamentables des loups

Et des sorcières faméliques,
Les ébats des vieillards lubriques
Et les complots des noirs filous.

Horreur sympathique
De ce ciel bizarre et livide,
Tourmenté comme ton destin,
Quels pensers dans ton âme vide
Descendent ? Réponds, libertin.

- Insatiablement avide
De l'obscur et de l'incertain,
Je ne geindrai pas comme Ovide
Chassé du paradis latin.

Cieux déchirés comme des grèves,
En vous se mire mon orgueil,
Vos vastes nuages en deuil

Sont les corbillards de mes rêves,
Et vos lueurs sont le reflet
De l'Enfer où mon coeur se plaît.

Horreur Sympathique

De ce ciel bizarre et livide,
Tourmenté comme ton destin,
Quels pensers dans ton âme vide
Descendent ? Réponds, libertin.

- Insatiablement avide
De l'obscur et de l'incertain,
Je ne geindrai pas comme Ovide
Chassé du paradis latin.

Cieux déchirés comme des grèves,
En vous se mire mon orgueil,
Vos vastes nuages en deuil

Sont les corbillards de mes rêves,
Et vos lueurs sont le reflet
De l'Enfer où mon coeur se plaît.

Le Vampire

Toi qui, comme un coup de couteau,
Dans mon coeur plaintif es entrée ;
Toi qui, forte comme un troupeau
De démons, vins, folle et parée,

De mon esprit humilié
Faire ton lit et ton domaine ;
- Infâme à qui je suis lié
Comme le forçat à la chaîne,

Comme au jeu le joueur têtu,
Comme à la bouteille l'ivrogne,
Comme aux vermines la charogne,
- Maudite, maudite sois-tu !

J'ai prié le glaive rapide
De conquérir ma liberté,
Et j'ai dit au poison perfide
De secourir ma lâcheté.

Hélas ! le poison et le glaive
M'ont pris en dédain et m'ont dit :
" Tu n'es pas digne qu'on t'enlève
A ton esclavage maudit,

Imbécile ! - de son empire
Si nos efforts te délivraient,
Tes baisers ressusciteraient
Le cadavre de ton vampire ! "

Poemas: "Les Fleurls du Mal", Charles Baudelaire.
Imagens 1 e 3: Nosferatu, Murnau, 1929
Clicar nos títulos dos poemas para tradução em português.

HALLOWEEN


Na cultura celta o nosso dia 1 de Novembro marcava o fim do Verão, as últimas colheitas e a vinda do escuro e duro Inverno. Esta era também uma data associada aos mortos.
A noite de 31 de Outubro era a noite do "Samhain". Os celtas acreditavam que durante esta noite os espíritos dos mortos vagueavam pelo mundo dos vivos para os atormentar.
A fim de assustar os maus espíritos, eram oferecidas dádivas às divindades e as pessoas mascaravam-se, com cabeças de animais, acendiam grandes fogueiras e esculpiam nabos para colocar uma chama no interior.

por volta de 800 DC a igreja cristianizou este rito pagão, transformando-o no dia de comemoração dos mártires que mais tarde se passou a se chamar dia de todos os santos.

A noite de 31 de Outubro ficou então conhecida como "All Hallow´s Even" que num inglês arcaico era qualquer coisa como "Noite dos Espíritos". A palavra seria depois encurtada para "Halloween".

Em 1800, um grupo de emigrantes irlandeses, leva o culto do "Samhein" para a América e o velho culto de esculpir o nabo para se colocar uma luz no interior é substituido pela abóbora.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

DIA NACIONAL DE PREVENÇÃO DO CANCRO DA MAMA

E não pensem que isto é só coisa de mulheres, os homens também podem contrair a doença.
Liga Portuguesa Contra o Cancro

ESTÁTUAS

Edifício Ernst & Young, Los Angeles

Headington, Oxford. Inglaterra

Grifo Mágico, Cadiz. Mais em Wikipedia

O Violinista, Hall de entrada do Amsterdam Theater, Holanda

Estocolmo, Suécia

Estátua no Rio Guadalquivir, Córdova, Espanha


Instituto de microbiologia em da Universidade de Tübingen, Alemanha

Universidade de La Trobe, Melbourne, Austrália


Melting Cow, Budapeste, Hungria.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

BRAVIA


Hoje regresso aos anúncios da Sony Bravia que são mesmo uma maravilha, ainda por cima com uma das minhas preferidas dos Stones.

domingo, 28 de outubro de 2007

PENÉLOPE

Henri de Toulouse-Lautrec
"La Toilette"

Mais do que um sonho: comoção!
Sinto-me tonto, enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.

E recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.

Mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço os melhores dias
do nosso amor.

David Mourão-Ferreira

sábado, 27 de outubro de 2007

LIBELINHAS

Um sonho de infância
com uma fada voando sobre a água.
É uma libelinha dourada.
.
Papagueno


A LIBÉLULA

Num lugar muito bonito, onde havia árvores, flores e um lindo lago...
Certo dia surgiu um casulo...
E quando ele se rompeu, de dentro saiu voando uma linda libélula.
E ela ficou tão encantada com o lugar, que voou por cada pedaçinho...
Brincou nas flores, nas árvores, no lago, nas nuvens...
E quando ela já tinha conhecido tudo...no alto de uma colina, avistou
uma casa...
A casa do homem...e a libélula havia de conhecer a casa do homem...e
foi voando pra lá....
E então, a libélula entrou por uma janela, justo a janela da cozinha...
E nesse dia, uma grande festa era preparada
Um homem com um chapéu branco...grande...dava ordens para os criados...
Mas a libélula não se preocupou com isso,
Quando de repente, ela viu sobre a mesa...uma tigela cheia de nuvens!!!
E a libélula não resistiu, ela tinha adorado brincar nas nuvens...e
mergulhou....
Mas quando ela mergulhou...ahhhhhhhh...aquilo não eram nuvens, e ela
foi ficando toda grudada, e quanto mais ela se
mexia tentando escapar...ahhhhhh mais ela afundava....
E a libélula então começou a rezar, e ela pedia ao Deus dos Insetos
Voadores que a libertasse, fazia promessas e dizia
que se conseguisse sair dali, dedicaria o resto de seus dias a ajudar
os insetos voadores...e ela rezava e pedia...
Até que o chefe da cozinha começou a ouvir um barulhinho, e ele não
sabia que era a libélula rezando e quando olhou na
tigela de claras em neve...arghhhh um inseto!!! E ele pegou a libélula
e a atirou pela janela...
A libélula então, se arrastou para um pedacinho de grama, e sob o sol
começou a se limpar...e quando ela se viu
liberta...ahhhhh ela estava tão cansada que se virou pra Deus e disse:
- O Senhor, eu prometi dedicar o resto de minha vida a ajudar os outros
insetos voadores, mas agora eu estou tão
cansada, que prometo cumprir minha promessa a partir de amanhã...
E a libélula adormeceu...
Mas o que ela não sabia, e você também não sabe, é que as libélulas
vivem apenas um dia...
E naquele pedacinho de grama, a libélula adormeceu, e não mais
acordou....

Conto de tradição oral tirado da net.



Uma pimenta rubra.
Coloquemos-lhe asas:
Uma libélula.

Bashô

tombô ya mura natsukashiki kabe no iro

Libélulas!
Dá saudades da terra natal
A cor deste muro.

Buson

tombô ya toritsuki kaneshi kusa no ue

A libélula,
Sem conseguir se agarrar
A uma folha de capim.

Bashô

yuku mizu ni ono ga kage ou tombo kana

Sobre o curso d'água,
Perseguindo sua sombra,
Desliza a libélula.

Chiyo-jo


Fita colorida
pairando sobre o rio.
Libélula florida

Papagueno

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

UM RAPAZ QUE EU CONHEÇO


"Eu conheço um rapaz, mais ou menos da minha idade, que sabe ser feliz. Ninguém tem explicação para esta condição altamente fora do normal, altamente improvável. Ele tem três irmãos e todos eles são pessoas comuns, iguais a milhões, biliões de outras. Quanto estão zangados, dizem palavras de que se arrependem. Quando estão desiludidos, vê-se nos seus rostos. Quando estão muito tristes, choram. Já o rapaz que sabe ser feliz nunca diz palavras de que se arrepende, nunca se vê o desalento no seu rosto, nunca chora. O seu rosto é o seu sorriso. Quando chega, sorri. Quando se despede, sorri. Fica muito tempo a ouvir as pessoas que querem falar com ele. Há muitas pessoas que gostam de falar com ele. Ele ouve nos momentos em que as pessoas querem que ele ouça. Ele faz perguntas nos momentos em que as pessoas querem sentir que ele está interessado. Ele sorri durante o tempo todo da conversa. Muitas vezes, as pessoas contam-lhe histórias tristes. Contam-lhe coisas más que fizeram, porque sabem que ele entenderá. Contam-lhe histórias de coisas que aconteceram: maldades e coisas más. Ele ouve porque gosta verdadeiramente de ouvir. Ele faz perguntas porque sente curiosidade verdadeiramente. Ele sorri sempre. Quando as pessoas lhe falam de coisas más, ele não sorri, mas ele sorri. Os seus lábios não têm a forma de um sorriso, mas os seus olhos sorriem. Os seus olhos não sorriem, mas têm um brilho que é um sorriso.

Quando estão muitas pessoas e ele chega, passa pouco tempo e todos sorriem com ele. Os mais amargos sorriem. Os mais invejosos sorriem. Os mais perversos sorriem. Os funcionários de repartições, os poetas, os advogados sorriem. Quando se despede, sorri e o seu sorriso permanece no rosto das pessoas durante o resto do dia. Contam-se muitas histórias sobre ele. Diz-se que, quando ele põe as mãos em concha, cresce uma bola de luz dentro das suas mãos. Diz-se que, quando ninguém está a ver, ele entorna essa luz sobre a cabeça das pessoas. Eu não duvido dessas histórias. Nunca vi essa bola de luz, nunca ninguém a viu, mas acredito. O seu sorriso é a sombra da sua alegria. Quando ele sorri, existe no seu interior uma alegria que é o sol. Quando ele sorri, o sol inteiro está apertado, quase a explodir, dentro dele. O seu sorriso tem muitas formas. É terno, entusiasmado, meigo, vivo, brando. As formas do seu sorriso são as formas exactas da alegria que existe dentro dele. Ele é sincero. Sabe ser feliz e, por isso, ele é feliz.

Contam-se muitas histórias sobre a origem da sua felicidade. Ninguém sabe qual é a verdadeira. Cada pessoa conta uma história diferente. Às vezes, as pessoas discutem sobre isso. Nunca chegam a uma conclusão. Se uns dizem que foi um vírus, outros dizem que nasceu assim. Às vezes, as pessoas zangam-se umas com as outras por causa disso. Às vezes, deixam de falar umas com as outras por causa disso. Fazem as pazes no momento em que voltam a encontrar o rapaz. Se uma dessas pessoas encontrar o rapaz de manhã, se a outra encontrar o rapaz à tarde, ficam com um sorriso grande para o resto do dia. Se depois disso se encontrarem, fazem as pazes. Uma das pessoas ficará a repetir desculpas para a outra que, ao mesmo tempo, repetirá desculpas também. Poucos horas depois de nascer, quando a mãe estava na maternidade, com os cabelos sobre a almofada, sem força, quando o pai estava de pé ao lado da cama, quando a enfermeira chegou com ele ao colo, quando a mãe o aceitou nos braços e fez com os lábios a forma de beijinhos, quando o pai se inclinou para o ver melhor, quando os pais o consideraram seu pela primeira vez, a mãe disse: Olha, parece que está a sorrir. Alguém me contou que, depois dessa hora, os seus pais sorriram durante o resto do dia. As pessoas que eles encontram sorriram também durante o resto do dia, assim como sorriram as pessoas que essas pessoas encontram. Aquele sorriso alastrou-se pelo mundo como se o varresse e, na última hora desse dia, todas as pessoas vivas sorriram. Ninguém sabe ao certo se essa história é verdadeira, mas não deixa de ser uma boa história.

A verdade absoluta é que esse rapaz que eu conheço sabe ser feliz. Já houve gente a pedir-lhe que explicasse a felicidade. Ele sorriu e não soube responder. Aqueles que lhe perguntaram sorriram e aceitaram essa resposta. Talvez ponha as mãos em concha, talvez cresça uma bola de luz dentro das suas mãos. Porque não? Eu e toda a gente que o conhece muitas vezes deixámos que as nossas mãos ficassem em concha durante momentos. Não resultou. Eu e toda a gente que conhece esse rapaz achámos que não conseguíamos. Duvidámos. Sofremos por duvidar. Depois, entendemos. As mãos em concha, uma bola de luz a crescer dentro das mãos. Faltava o mais importante. Eu e todos, em algum momento das nossas vidas percebemos que não basta formar uma concha com as mãos, é preciso sorrir. Depois, se olharmos bem, veremos como cresce uma bola de luz. Natural, incandescente, limpa. Quando ninguém está a ver, podemos entorná-la sobre a cabeça de alguém. O seu sorriso ensinar-nos-à sorrir ainda mais."


José Luís Peixoto
Escritor

Imagem do topo: Joe Sorren

A Raríssimas, Associação Nacional de Doenças Mentais e Raras lançou o desafio: queria propor a personalidades e escritores que escrevessem um conto sobre o que é para cada um raro. E o desafio foi respondido por 14 individualidades, entre os quais os escritores José Luis Peixoto e Jacinto Lucas Pires, Rosa Lobato de Faria e Carlos Pinto Coelho. O resultado é um livro de contos cuja receita reverte, na totalidade, a favor da Raríssimas.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

OS OVOS DE FABERGÉ



Decorria o ano de 1885 quando o Czar Alexandre III decidiu oferecer um presente de Páscoa bem original à sua esposa Maria Feodorovna. O presente foi um magnífico ovo de Páscoa feito em ouro e platina, o ovo abria-se e lá dentro continha uma galinha em ouro com olhos feitos de rubis.

Coronation Egg, ovo comemorativo da coroação de Nicolau II



Nascido Carl Gustavovich Fabergé a 30 de Maio de 1846 em S. Petersburgo, era filho do joalheiro Gustav Fabergé a da sua esposa dinamarquesa, Charlotte Jungstedt.
Em 1872 toma conta do negocio do pai. Em 1182 dá nas vistas durante uma exposição em Moscovo, dois anos depois era o joalheiro oficial do Czar.
Fabergé continuou a fazer ovos para a Casa Imperial Russa à razão de um por ano, sempre por alturas da Páscoa.
Em 1917, com o clima revolucionário a subir, decidiu sair da Russia, viajou pela Europa e morreu em 1920 em Lausanne, na Suiça. Foi sepultado ao lado da sua esposa Augusta no Cimetière du Grand Jas em Cannes, França.


HERMITAGE EM LISBOA


A exposição “Arte e cultura do Império russo nas colecções do Hermitage: de Pedro, o Grande, a Nicolau II”, traz a Lisboa cerca de meio milhar de magnificas peças de pintura, escultura e artes decorativas que se estendem de setecentos aos início do século XX. A exposição centra-se na diversidade das personagens reais e na riqueza da vida de corte da dinastia imperial dos Romanov.
Entre as cerca de 500 obras patentes ao público, destacam-se: Retratos da família imperial, vistas de S. Petersburgo, trajos das czarinas e fardas da Guarda Imperial, assim como peças de mobiliário, baixelas e algumas das famosas jóias desenhadas por Fabergé.

A exposição vai estar patente entre os dias 26 de Outubro e 17 de Fevereiro na Galeria D. Luís no Palácio Nacional da Ajuda. Prevê-se que esta seja apenas a primeira de uma série de três exposições que se realizarão entre 2007 e 2009 que antecedem a instalação de uma filial em Lisboa do célebre museu russo.


Mais informações no site do IPM

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

CÉZANNE

Auto-retrato, 1879-1885

A Casa do Enforcado, 1873

Em um retrato

De sob o cômoro quadrangular
Da terra fresca que me há-de inumar,

E depois de já muito ter chovido,
Quando a erva alastrar com o olvido,

Ainda, amigo, o mesmo meu olhar
Há-de ir humilde, atravessando o mar,

Envolver-te de preito enternecido,
Como o de um pobre cão agradecido.

Medeia, 1879-1882

Estátua

Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, --- frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.

Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão! Para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.

E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre o mármore correcto
Desse entreaberto lábio gelado...

Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.

Cinco banhistas, 1880-1881


Olympia Moderna 1869-1870


Interrogação

Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do <>.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.

Seis Mulheres Banhando-se, 1874-1875

Marne-Ufer, 1888


Crepuscular

Há no ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos de amor, d'ais comprimidos...
Uma ternura esparsa de balidos,
Sente-se esmorecer como um perfume.

As madressilvas murcham nos silvados
E o aroma que exalam pelo espaço,
Tem delíquios de gozo e de cansaço,
Nervosos, femininos, delicados.

Sentem-se espasmos, agonias d'ave,
Inapreensíveis, mínimas, serenas...
--- Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O meu olhar no teu olhar suave.

As tuas mãos tão brancas d'anemia...
Os teus olhos tão meigos de tristeza...
--- É este enlanguescer da natureza,
Este vago sofrer do fim do dia.

Poemas: Camilo Pessanha
Homenagem a Paul Cézanne nos 101 anos da sua morte

ROUPA


Aquela saia roda
como o topo do moinho de pás,
o que em mim confirma agora
que o vento me reveste.

*

Quando depois do nascimento me vestiram,
a roupa então em mim resplandeceu.
Mas estava nua, sem cambraia
ou a memória simples dela nos sentidos.
Nua e solene, com a roupa alheia
em tomo do meu corpo. E ignorava
valor, matéria e as pompas
que entregam roupas e versos ao comércio.
Acreditava só que o gesto amado
de me cobrirem de panos ao nascer
seria a minha glória

*

O pequeno velo de roupa é
o da imaginação. Vestiram-me
para me velar, como janelas afloram
nas casas ou como a palha envolve
medas. As escassas vestes
nas montras eram também
sinais da imaginação. E a linha
nas mãos da costureira assim
imaginada era.

*

Tão devagar cosia pelo traço do giz
a máquina que os pés moveram balançando
quanto os meus olhos devagar seguiram
o traçado dos pontos e o meu espanto
de ver a ordem surgir dos riscos soltos.
O rosto atento caía sobre o pano
que pouco a pouco me tomava a forma
do meu corpo tocado pela luxúria
de tão belos cetins, veludos
inverosímeis e, como tudo o que
a memória gera, fontes de dores.

*

O tépido calor cobre-me
por fora de tules em flor.
As folhas do loureiro ridentes
assemelham-se ao meu vestido
de verde cassa. Agradeço, pois, às bocas
de parentes os nomes ditos.

*

Todas as roupas usadas
próprias do Verão são aquele
vestido único, porque me haviam dito
que ao entrar pelos olhos
ele me cobria de fulgor.

*

Com a saia de tobralco leve passei
entre as nossas hortas, águas do poço,
coisas da quinta tão diversas todas.
E amei cada um dos vários nomes,
e também as palavras especiosas
que na retrosaria designam o belo fio
e aquelas que me mostravam os tecidos
em sequências de alucinações novas.

Fiama Hasse Pais Brandão
Cena Vivas
Relógio d´Água
Foto: Jan Saudek

domingo, 21 de outubro de 2007

BELAS E MORTÍFERAS

NEPENTHES
Nepenthes Macfarlanei


Nepenthes rafflesiana

Nepenthes Rajah



DROSOPHYLUM


Drosophylum Lusitanicum


Drosophylum Lusitanicum


DROSERA

Drosera Rotundifolia


Drosera Intermedia



Drosera Capensis




DIONAEA

Dionaea Muscipula



Dionaea Muscipula



Dionaea Muscipula



SARRACENIA

Sarracenia Purpurea


Sarracenia Purpurea