quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O CAÇADOR SIMÃO


Um terrívelmente profético poema de Guerra Junqueiro. O caçador Simão não era mais que o próprio rei D. Carlos recentemente entronizado.


Jaz el-rei entrevado e moribundo
Na fortaleza lôbrega e silente…
Corta a mudez sinistra o mar profundo …
Chora a rainha desgrenhadamente …

Papagaio real, diz-me quem passa?
-- É o príncipe Simão que vai à caça.

Os sinos dobram pelo rei finado …
Morte tremenda, pavoroso horror!...
Sai das almas atónitas um brado,
Um brado imenso d’amargura e dor …

Papagaio real, diz-me, quem passa?
-- É el-rei D. Simão que vai à caça.

Cospe o estrangeiro afrontas assassinas
Sobre o rosto da pátria a agonizar …
Rugem nos corações fúrias leoninas,
Erguem-se as mãos crispadas para o ar!...

Papagaio real, diz-me quem passa?
--É el-rei D. Simão que vai à caça.

A Pátria é morta! A Liberdade é morta!
Noite negra sem astros, sem faróis!
Ri o estrangeiro odioso à nossa porta,
Guarda a Infâmia os sepulcros dos Heróis!

Papagaio real, diz-me, quem passa?
--É el-rei D. Simão que vai à caça.

Tiros ao longe numa luta acesa!
Rola indomitamente a multidão …
Tocam clarins de guerra a Marselheza …
Desaba um trono em súbita explosão!...

Papagaio real, diz-me, quem passa?
--É alguém, é alguém que foi à caça
Do caçador Simão!...

Guerra Junqueiro
8 de Abril de 1890

REGICÍDIO

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

MY BODY IS A CAGE


Sergio Leone, Henry Fonda, Charles bronson & Arcade Fire.

FINALMENTE REMODELADA


Como dizia Lampedusa: "É preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma".
Só mudam três caras, mas se fossem mais, as políticas continuariam as mesmas.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

A ANEDOTA DO DIA


Para descontrair da postagem anterior:

«Alguns estão a tentar dar lições de esquerda ao PS, mas não me recordo de um período onde um Governo tivesse deixado tantas marcas de esquerda»
José Sócrates.

O MUNDO LIGEIRAMENTE MELHOR


Infelizmente já foi tarde, só lamento que este assassino tenha vivido tantos anos sem nunca pagar pelos seus crimes.
Suharto morreu, mas ficou com muito sangue indonésio e timorense nas mãos. Esteve 32 anos no poder, 3 décadas a enriquecer à custa do seu próprio povo e ainda lhe vão fazer um funeral com honras de estado.
Sei que não se deve desejar a morte a ninguém mas há alguns que nem deviam ter nascido.

domingo, 27 de janeiro de 2008

HORTO


homens cegos procuram a visão do amor
onde os dias ergueram esta parede
intransponível
caminham vergados no zumbido dos ventos
com os braços erguidos - cantam
a linha do horizonte é uma lâmina
corta os cabelos dos meteoros - corta
as faces dos homens que espreitam para o palco
nocturno das invisíveis cidades
escorre uma linfa prateada para o coração dos cegos
e o sono atormenta-os com os seus sonhos vazios
adormecem sempre
antes que a cinza dos olhos arda
e se disperse
no fundo do muito longe ouve-se
um lamento escuro
quando a alba se levanta de novo no horto
dos incêndios
prosseguem caminho
com a voz atada por uma corda de lírios
os cegos
são o corpo de um fogo lento - uma sarça
que se acende subitamente por dentro.

Al Berto
"Horto de incêndio", 1996
Imagem: Sauco

sábado, 26 de janeiro de 2008

SEMPRE PARA SEMPRE



Há amor amigo
Amor rebelde
Amor antigo
Amor da pele
Há amor tão longe
Amor distante
Amor de olhos
Amor de amante
Há amor de inverno
Amor de verão
Amor que rouba
Como um ladrão
Há amor passageiro
Amor não amado
Amor que aparece
Amor descartado
Há amor despido
Amor ausente
Amor de corpo
E sangue, bem quente
Há amor adulto
Amor pensado
Amor sem insulto
Mas nunca, nunca tocado
Há amor secreto
De cheiro intenso
Amor tão próximo
Amor de incenso
Há amor que mata
Amor que mente
Amor que nada, mas nada
Te faz contente, me faz contente
Há amor tão fraco
Amor não assumido
Amor de quarto
Que faz sentido
Há amor eterno
Sem nunca, talvez
Amor tão certo
Que acaba de vez
Há amor de certezas
Que não trará dor
Amor que afinal
É amor,
Sem amor
O amor é tudo,
Tudo isto
E nada disto
Para tanta gente
É acabar de maneira igual
E recomeçar
Um amor diferente
Sempre , para sempre
Para sempre

Donna Maria

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

HE WAS A FRIEND OF MINE

Heath Ledger (1979-2008)


He was a friend of mine
He was a friend of mine
Every time I think of him
I just can't keep from cryin'
'Cause he was a friend of mine

He died on the road
He died on the road
He just kept on movin'
Never reaped what he could sow
And he was a friend of mine

I stole away and cried
I stole away and cried
'Cause I never had too much money
And I never been quite satisfied
And he was a friend of mine

He never done no wrong
He never done no wrong
A thousand miles from home
And he never harmed no one
And he was a friend of mine

He was a friend of mine
He was a friend of mine
Every time I hear his name
Lord, I just can't keep from cryin'
'Cause he was a friend of mine

Willie Nelson
Banda sonora de "Brokeback Mountain"

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

LA FOLIE


Bonsoir
Ton vehicule n'a pas l`air d`avoir de passager
Peux-tu: Veux tu me recevoir
Sans trop te deranger?
Mes bottes ne feront pas trop d`echos dans ton couloir
Pas de bruit avec mes adieux
Pas pour nous les moments perdus
En attendant un uncertain au-revoir
Parce que-j'ai la folie, oui c'est la folie

Il etait une fois un etudiant
Qui voulait fort, comme en literature
Sa copine, elle etait si douce
Qu'il pouvait presque, en la management
Rejeter tous les vices
Repousser tou les mals
Detruire toutes beautes
Qui par ailleurs, n'avait jamais ete ses complices
Parces qu'il avait la folie, oui, c'est la folie

Et si parfois l'on fait des confessions
A qui les raconter - meme le bon dieu nous a laisse tomber
Un autre endroit, une autre vie
Eh oui, c'est une autre histoire
Mais a qui tou raconter?
Chez les ombres de la nuit?
Au petit matin, au petit gris
Combien de crimes ont ete commis
Contre les mensonges et soi disant les lois du coeur
Combien sont la a cause de la folie
Parce qu'il ont la folie

The Stranglers
"La Folie", 1981
Imagem: Siro Anton

domingo, 20 de janeiro de 2008

A MORTE NA MADRUGADA


Uma certa madrugada
Eu por um caminho andava
Não sei bem se estava bêbedo
Ou se tinha a morte n’alma
Não sei também se o caminho
Me perdia ou encaminhava
Só sei que a sede queimava-me
A boca desidratada.
Era uma terra estrangeira
Que me recordava algo
Com sua argila cor de sangue
E seu ar desesperado.
Lembro que havia uma estrela
Morrendo no céu vazio
De uma outra coisa me lembro:
... Un horizonte de perros
Ladra muy lejos del río...
De repente reconheço:
Eram campos de Granada!
Estava em terras de Espanha
Em sua terra ensangüentada
Por que estranha providência
Não sei... não sabia nada...
Só sei da nuvem de pó
Caminhando sobre a estrada
E um duro passo de marcha
Que eu meu sentido avançava.
Como uma mancha de sangue
Abria-se a madrugada
Enquanto a estrela morria
Numa tremura de lágrima
Sobre as colinas vermelhas
Os galhos também choravam
Aumentando a fria angústia
Que de mim transverberava.
Era um grupo de soldados
Que pela estrada marchava
Trazendo fuzis ao ombro
E impiedade na cara
Entre eles andava um moço
De face morena e cálida
Cabelos soltos ao vento
Camisa desabotoada.
Diante de um velho muro
O tenente gritou:
Alto! E à frente conduz o moço
De fisionomia pálida.
Sem ser visto me aproximo
Daquela cena macabra
Ao tempo em que o pelotão
Se punha horizontal.
Súbito um raio de sol
Ao moço ilumina a face
E eu à boca levo as mãos
Para evitar que gritasse.
Era ele, era Federico
O poeta meu muito amado
A um muro de pedra-seca
Colado, como um fantasma.
Chamei-o: Garcia Lorca!
Mas já não ouvia nada
O horror da morte imatura
Sobre a expressão estampada...
Mas que me via, me via
Porque eu seus olhos havia
Uma luz mal-disfarçada.
Com o peito de dor rompido
Me quedei, paralisado
Enquanto os soldados miram
A cabeça delicada.
Assim vi a Federico
Entre dois canos de arma
A fitar-me estranhamente
Como querendo falar-me
Hoje sei que teve medo
Diante do inesperado
E foi maior seu martírio
Do que a tortura da carne.
Hoje sei que teve medo
Mas sei que não foi covarde
Pela curiosa maneira
Com que de longe me olhava
Como quem me diz: a morte
É sempre desagradável
Mas antes morrer ciente
Do que viver enganado.
Atiraram-lhe na cara
Os vendilhões de sua pátria
Nos seus olhos andaluzes
Em sua boca de palavras.
Muerto cayó Federico~
Sobre a terra de Granada
La tierra del inocente
No la tierra del culpable.
Nos olhos que tinha abertos
Numa infinita mirada
Em meio a flores de sangue
A expressão se conservava
Como a segredar-me:
A morte É simples, de madrugada...

Vinícius de Morais

Federico Garcia Lorca foi assassinado pelos nacionalistas de Franco.
Alguém disse que "ele era mais perigoso com a caneta do que outros com o revólver".

AMIZADE VIRTUAL

A Avelaneira Florida é já uma das presenças VIP aqui do Bairro. Como grande amiga que é presenteou-me de novo com um novo mimo.
Apesar de virtual a amizade é sempre amizade e um amigo é coisa que vale milhões.
Obrigado Avelaneira.

Este prémio é repartido por todos os amigos que me visitam aqui no Bairro do Amor.

sábado, 19 de janeiro de 2008

AS PALAVRAS INTERDITAS



"As Palavras Interditas" nos 85 anos do nascimento do escritor.

Os navios existem e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.
Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.
Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E abrem-se janelas
mostrando a brancura das cortinas.
As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas minhas curvas claras.
Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
e estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.
E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens vivas, desenhadas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

A RIBON


Devendra Banhart

VEM COMIGO


Vem comigo
ver as pirâmides fantásticas do vento
no interior luminoso da terra encontrarás
o segredo de quartzo para desvendares o tempo
onde contemplamos a fulva doçura das cerejas

Iremos para onde os restos de vida não acordem
a dor da imensa árvore a sombra
dos cabelos carregados de pólenes e de astros
crescemos lado a lado com o dragão
o súbito relâmpago dos frutos amadurecendo
iluminará por um instante as águas do jardim
e o alecrim perfumará os noctívagos passos
há muito prisioneiros no barro
onde o rosto se transforme e morre
e já não nos pertence

Vem comigo
praticar essa arte imemorial de quem espera
não se sabe o quê junto à janela
encolho-me
como se fechasse uma gaveta para sempre
caminhasse onde caiu um lenço
mas levanto os olhos
quando o verão entra pelo quarto e devassa
esta humilde existência de papel

Vem comigo
as palavras nada podem revelar
esqueci-as quase todas onde vislumbro um fogo
pegando fogo ao corpo mais próximo do meu

Al Berto
Imagem: Siro Anton

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

A SECRETA VIDA DAS IMAGENS

I like America and America likes me", Joseph Beuys

SEGREDO ENTRE JOSEPH BEUYS E EU

contemplamos
o início da luz estilhaçada
pelo animal sacrificado tocamos o homem
cuja vida se desprende do centro da terra
e
sob a sola do sapato de chumbo
uma cabeça de sangue e de mercúrio escorre
oxidando a vulcânica lâmina da memória

contemplamos
o início da luz estilhaçada
pelo homem tocamos o sacrificado animal
cuja morte se prende à intriga do coração
e
sob a sola do sapato de chumbo
uma artéria pulsa incandescente e escorre
dos olhos do animal para os olhos do homem

contemplamos
o início secreto da eterna luz e da treva
atentos
à morte do esplêndido universo

Girassóis, Vincent Van Gogh


ÚLTIMA CARTA DE VAN GOGH A THEO

nunca me preocupei em reproduzir exactamente
aquilo que vejo e observo
a cor serve para me exprimir théo: amarelo
terra azul corvo lilás sol branco pomar vermelho
arles
sulfurosas cores cintilanddo sob o mistério
das estrelas na profunda noite afundadas onde
me alimento de café absinto tabaco visões e
um pedaço de pão théo
que o padeiro teve a bondade de fiar

o mistral sopra mesmo quando não sopra
os pomares estão em flor
o mistral torna-se róseo nas copas das ameixeiras
arles continuou a arder quando tentei matar aquele
que viu a minha paleta tornar-se límpida
mas acabei por desferir um golpe contra mim mesmo
théo
cortei-me uma orelha e o mistral sopra agora
só de um lado do meu corpo os pomares estão em flor
e arles théo continua a arder sob a orelha cortada

por fim théo
em auvers voltei a cara para o sol
apontando o revólver ao peito senti o corpo
como um torrão de lama em fogo regressar ao início
num movimento de incendiado girassol

Circulos dentro de um circulo, Kandisnsky

KANDINSKY ESCONDIDO ATRÁS DA TELA

muito antes de ter adoptado formas
rigorosamente geométricas (para fugir à anarquia)
pintei este arco negro ligando duas zonas
da mesma paisagem: ponte escura
por onde -tu que me olhas- podes passar
ao encontro da intensa chama das manhãs

e do outro lado do arco onde o vento e a árvore
se perdem na euforia de suas próprias cores
-escndido atrás da tela- vejo-te
cada vez mais próximo como se avançasses
pela desintegração do átomo ou pelo deslumbramento
dos lumes te acercasses de mim: o olhar envolto
na teia harmoniosa de colorida música

Os Noivos Voadores, Marc Chagall


OS NOIVOS VOADORES DE CHAGALL

como se escrevesse um poema pinto a mulher
que irrompe da plumagem azulínea do galo
por cima das pontes anoiteceu onde flutuam
o bode e os noivos lancei por terras barreiras
entre elementos e leis físicas
para que o meu país se tornasse mais real
mais proximo de mim quando no exílio pouso
os lábios nas cores de avelã ou das nozes
e fico com o sabor delas na boca.

Recordo assim a casa paterna em Vitebsk e os nevões
de s. petersburgo aquela criança no mercado
apanhando moedas atiradas ao tapete e a cabra triste
em equílibrio - bailando - em cima do gargalo da garrafa
os músicos de acordeão e violino sob o clarão da lua
estes noivos que para toda a minha vida esvoaçaram felizes
de pintura em pintura pelos nocturnos céus do país

Monte Saint-Victoire, Paul Cézanne

SAINT-VICTOIRE DEPOIS DA MORTE DE CÉZANNE

no mais remoto isolamento da memória
guardei preciosamente a sombra dos basaltos
luminosos xistos frestas de granito janelas
perto de Saint-Victoire mais cinzenta que nunca
pintava sem cessar pintava
desde o alvorecer até que a noite descia
obrigando a mão e o pensamento a desfalecer

trabalhei sempre a obsessiva luz
mas a velhice aprisionou-me na vertigem
muito longe na idade
continuei a pintar sur motif
parecia-me fazer lentos progressos
quase compreendi os sobrepostos planos
de um mesmo objecto sob a claridade de d'aix

foi em 1906
montado num burro carregado com material
ia por onde o cortante mistral passara
deixando a descoberto o implacável sol
modulava terras pinhais nuvens casas corpos
mas a morte não consentiu que eu executasse
as vislumbradas geométricas paisagens e
comigo se perdeu o segredo o segredo dessa pirâmide
que é Saint-Victoire vibrando
na cegante luminosidade do meio-dia

Anunciação, Fra Angelico


A andorinha e Fra Angelico

a cor faz-se luz
dimana o esquemático desenho candura e
recolhida entre dois arcos está a virgem-ao fundo
a sala adivinha-se vazia-sob a abóbada
onde ínfimos astros cintilam veio o anjo
com o seu esplendor de asas em ouro trazer
o doce recado: hás-de conceber e dar à luz um filho
que reinará eternamente sobre a casa de jacob

angelico estremeceu com a inesperada revelação e
na cela retirado deu vida às celestiais criaturas
mas só ele e a andorinha ouviram o segredo
que deus mandara gabriel anunciar.


Mário Cesariny

CESARINY E O RETRATO ROTATIVO DE GENET

ao lusco-fusco mário
quando a branca égua flutua ali ao príncipe real
as bichas visitam-nos com as suas cabeças ocas
em forma de pêndulo abrem as bocas para mostrar
restos de esperma viperino debaixo das línguas e
com o dedo esticado acusam-nos de traição

sabemos que estamos vivos ou condenados a este corpo
cela provisória do riso onde leonores e chulos
trocam cíclicos olhares de tesão e
ficamos assim parados
sem tempo
o desejo diluindo-se no escuro à espera
que um qualquer varredor da alba anuncie
o funcionamento da forca para a última erecção

lá fora mário
longe da memória lisboa ressona esquecendo
quem perdeu o barco das duas ou se aquele que caminha
será atropelado ao amanhecer ou se o soldado
que falhou o degrau do eléctrico para a ajuda fode
ou ajuda ou não ajuda e se lisboa num vão de escadas
é isto
tão triste mário sobre o tejo um apito

Textos: Al Berto, "A Secreta Vida das Imagens", 1984,85

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

SEA SONG



You look different every time you come
From the foam-crested brine
Your skin shining softly in the moonlight
Partly fish, partly porpoise, partly baby sperm whale
Am I yours? Are you mine to play with?
Joking apart - when you're drunk you're terrific when you're drunk
I like you mostly late at night you're quite alright
But I can't understand the different you in the morning
When it's time to play at being human for a while please smile!
You'll be different in the spring, I know
You're a seasonal beast like the starfish that drift in with the tide
So until your your blood runs to meet the next full moon
You're madness fits in nicely with my own
Your lunacy fits neatly with my own, my very own
We're not alone

Robert Wyatt
"Rock Bottom", 1974

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

É UM BLOG MUITO BOM, SIM SENHORA!



O Bairro do Amor foi contemplado com mais um prémio. desta vez foi o Miguel que decidiu contemplar o meu cantinho com o certificado "É um Blog muito bom, sim Senhora!"

O Miguel já é um amigo de longa data aqui no Bairro, por isso é com grande alegria e orgulho que recebo o prémio das suas mãos.


Agora teria que escolher mais sete blogues para dar seguimento à corrente, como teria que escolher muito mais que sete vou entregar este prémio a todos os meus amigos que aqui me visitam e comentam.
É também uma forma muito modesta de agradecer o apoio prestado durante estes últimos dias.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

POESIA ENTRE O CAIS E O HOSPITAL


Geme no cais o navio cargueiro
No hospital ao lado, o homem enfermo.
O vento da noite recolhe gemidos
Une angústias do mundo ermo.
Maresia transborda do mar em cansaço,
Odor de remédios inunda o espaço.
Máquina e homem, ambos exaustos
Um, pela carga que pesa em seu bojo
Outro, na dor tomando o seu corpo.
Cais, hospital: Portos de espera
E começo de fim da longa viagem.
Chaminés de cargueiros gritando no mar,
Garganta do homem em gemidos no ar.
No fundo, o universo,
O mar infinito,
O céu infinito,
O espírito infinito.
Neblinados em tristezas e medos
Surgem silêncios entre os rochedos.
Chaminés de cargueiros gritando no mar
E a garganta do homem em gemidos no ar.

Adalgisa Nery
Foto: Olhares.com

domingo, 6 de janeiro de 2008

DOENTINHO


Começar o ano com uma cirurgia não é lá muito agradável.
Ainda um pouco combalido, espero regressar em breve.
Até lá dou-vos um pequeno descanso.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

TERRA



Ainda hoxe queda xente
que sabe sentir a terra
queda ainda quen comprende
canto pode aprender dela

Que non existe o silencio
todo está cheo de sons
canta o río, brúa o vento
todo fala ao teu redor

I é preciso que entendas
o que intues no interior
somos parte desta terra
porque terra somos nós

Somos coma o vento
que peitea a herba
gardando os segredos
dos confins da terra

Somos como as pedras
que o tempo moldea
envoltas nas neboas
dos confíns da terra

Somos coma o lume
que da luz nas tebras
i esperta as concencias
dos confins da terra

Luar Na Lubre
Tradicional / Bieito Romero
Letra: Raquel González Gamallo