quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
O CAÇADOR SIMÃO
Um terrívelmente profético poema de Guerra Junqueiro. O caçador Simão não era mais que o próprio rei D. Carlos recentemente entronizado.
Jaz el-rei entrevado e moribundo
Na fortaleza lôbrega e silente…
Corta a mudez sinistra o mar profundo …
Chora a rainha desgrenhadamente …
Papagaio real, diz-me quem passa?
-- É o príncipe Simão que vai à caça.
Os sinos dobram pelo rei finado …
Morte tremenda, pavoroso horror!...
Sai das almas atónitas um brado,
Um brado imenso d’amargura e dor …
Papagaio real, diz-me, quem passa?
-- É el-rei D. Simão que vai à caça.
Cospe o estrangeiro afrontas assassinas
Sobre o rosto da pátria a agonizar …
Rugem nos corações fúrias leoninas,
Erguem-se as mãos crispadas para o ar!...
Papagaio real, diz-me quem passa?
--É el-rei D. Simão que vai à caça.
A Pátria é morta! A Liberdade é morta!
Noite negra sem astros, sem faróis!
Ri o estrangeiro odioso à nossa porta,
Guarda a Infâmia os sepulcros dos Heróis!
Papagaio real, diz-me, quem passa?
--É el-rei D. Simão que vai à caça.
Tiros ao longe numa luta acesa!
Rola indomitamente a multidão …
Tocam clarins de guerra a Marselheza …
Desaba um trono em súbita explosão!...
Papagaio real, diz-me, quem passa?
--É alguém, é alguém que foi à caça
Do caçador Simão!...
Guerra Junqueiro
8 de Abril de 1890
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8 comentários:
Datas e história. Bem ou mal, temos que lidar com as nossas memórias. Guerra Junqueiro parece-me uma boa escolha. Caçadores e caçados, atemporal.
Beijo.
Uma consequência natural da história. Sem regicidio não haveria República. Nem Cavaco Silva seria presidente...
Caixinha de música nova?!
Saudações do Marreta.
Marreta:
Acho que o facto de haver república é muito bom, quanto a Cavaco Silva como PR já tenho as minhas dúvidas.
A caixinha de música? Não encontrei a música do Muddy Watters que andava à procura no Esnipes, fui procurá-la ao Imeen e acabei por trazer outra diferente.
Um abraço.
Um poema que é história:)
Beijos
Boa escolha Amigo. Um abraço
Só reafirmo como já fiz noutros blogs ...sou republicano.
Tenho alguma animosidade à poesia por questões educacionais do tempo da outra senhora. E sobre o Guerra Junqueiro fui obrigado a decorar e declamar de cor o " Batem leve levemente " e mais não digo!
Quanto à foto sou um amante deste tipo de documento e quando é histórico ainda mais.
Um abraço e bom fim de semana.
Amigo António Delgado, também eu sou repúblicano embora não atine lá muito com o presidente que lá está mas, isso é outra conversa.
Quanto à poesia queria só fazer uma correcção; o poema de que falas chama-se "A Balada da neve" e não foi escrito por Guerra Junqueiro mas sim por Augusto Gil, Guerra Junqueiro foi poeta de muito maior mérito. Além disso é lá da minha terrinha transmontana.
Um abraço.
Fizeste bem em recordar isto.
Diz muito.
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