sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

VEM COMIGO


Vem comigo
ver as pirâmides fantásticas do vento
no interior luminoso da terra encontrarás
o segredo de quartzo para desvendares o tempo
onde contemplamos a fulva doçura das cerejas

Iremos para onde os restos de vida não acordem
a dor da imensa árvore a sombra
dos cabelos carregados de pólenes e de astros
crescemos lado a lado com o dragão
o súbito relâmpago dos frutos amadurecendo
iluminará por um instante as águas do jardim
e o alecrim perfumará os noctívagos passos
há muito prisioneiros no barro
onde o rosto se transforme e morre
e já não nos pertence

Vem comigo
praticar essa arte imemorial de quem espera
não se sabe o quê junto à janela
encolho-me
como se fechasse uma gaveta para sempre
caminhasse onde caiu um lenço
mas levanto os olhos
quando o verão entra pelo quarto e devassa
esta humilde existência de papel

Vem comigo
as palavras nada podem revelar
esqueci-as quase todas onde vislumbro um fogo
pegando fogo ao corpo mais próximo do meu

Al Berto
Imagem: Siro Anton

4 comentários:

Anônimo disse...

um grito, sob a forma de doloroso apelo, contra a solidão.
Não pôde o poeta visitar este bairro...

Gasolina disse...

A intensidade da solidão aprisionada nas palavras. E a gravura é simplesmente tenebrosa, até se sente o frio de se estar só.

Beijinhos

wind disse...

Tão só, mas tão belo como escreveu.
Sou suspeita, porque adoro Al Berto:)
Beijos

avelaneiraflorida disse...

Mais uma excelente escolha, AMIGO PAPAGUENO!!!!!
Al Berto é mesmo assim! e a imagem perfeita!!!!
Brigados por mais este post!
Bjkas, amigo!!!