Poesia
Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma possuirá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos
A anémona dos dias
Aquele que profanou o mar
E que traiu o arco azul do tempo
Falou da sua vitória
Disse que tinha ultrapassado a lei
Falou da sua liberdade
Falou de si próprio como de um Messias
Porém eu vi no chão suja e calcada
A transparente anémona dos dias.
Liberdade
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade
Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.
Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.
Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.
ESPERO
Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.
AUSÊNCIA
Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua
.
Poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)
Pintura: Claude Monet (1840-1926 )
17 comentários:
Que coincidência!!!
Ando com a Sophia atrelada a mim nestes últimos tempos...
Juntar-lhe Monet...acba por ser, no mínimo, SUBLIME!
Brigados, pelas escolhas, papagueno!
Bjks
«Que link mais fixe»! :-)
Excelente a comunicação entre a poesia e a pintura que escolheste, meu caro! Parabéns pela ideia!
Reler Sophia vezes sem conta e sonhar com as paisagens de Monet até cair de sono, eis duas «actividades» bem estivais...
Um abraço! :-)
Mais tarde volto aqui para a visita habitual mas agora só te queria dizer que te mandei um mail que foi devolvido de imediato com os endereços dos blogues. Não tenho outra forma de te fazer chegar o que quero dizer :(
V~e se chegou e se foi para spam.
beijinhos
Olá Gi, recebi o teu email e até já respondi.
Beijinhos
Bem...
Isto não é um blog.
Isto é uma das 7 maravilhas.
MESMO!!!
Abraço
Grande seleccção de poesia e pintura. Juntas completam-se como se de almas gémeas se tratassem. Jokitas.
Até parece que as palvras foram feitas à medida da pincelada... ou terá sido o inverso?
Beijinhos
obrigado pelo post fantástico; nada mais sei dizer.
Que dizer mais quando nada destoa ??
Apenas deixar um beijo encaracolado e "special" por ser de mim para ti ... :)
Sophia em grande destaque... Patabéms :)
Gostei muito da combinação entre os poemas apresentados e as obras escolhidas... Mostra muito bem a sua sensibilidade...gosto especialmente da ausencia...
Bjs
"Porém eu vi no chão suja e calcada
A transparente anémona dos dias."
gostei do poema too, mas achei particular graça a este pedaço. bjitos
Belíssimos poemas, papagueno!
Parabéns!
Grande abraço!
Lindo... Li e reli. Alguns, como Ausência, são dos meus preferidos (se se pode preferir algo em Sophia). Onda de poesia, parece-me bem. Estou de regresso, queria deixar um beijinho saudável. E a surpresa foi linda. :o)
gostei do teu perfil.
e do blog.
e de sofia. sempre.
mais um palmaníaco.
beijos
Olá Isabel, Bem-vinda ao Bairro do Amor.
Sim assumo, sou um Palmaníaco se bem que sou acima de tudo maníaco mesmo sou do Sérgio Godinho.
Beijos e volta sempre.
Só posso dizer LINDO
Beijocas e bom fim de semana
BF
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