Continuando a evocar os grandes poetas, Fernando Pessoa faria hoje 119 anos e Eugénio de Andrade morreu há dois anos, também num dia 13 de Junho.
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Alberto Caeiro
O meu heterónimo preferido.
Imagem: Joe Sorren
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Alberto Caeiro
O meu heterónimo preferido.
Imagem: Joe Sorren
As palavras que te envio são interditas
As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.
Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.
E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.
Eugénio de Andrade
Foto: Jannie Regnerus
12 comentários:
Bom! Sinceramente eu PREFIRO E.Andrade a Pessoa!
"Prontos"...são feitios!!!!
E. Andrade é a Natureza, de Pessoa aquele de quem mais me aproximo será...naturalmente Caeiro!
De qualquer modo duas referências!!!
Eugénio procurou com denodo a limpidez das palavras e as que usa são precisas, contidas e exactas.Tudo é limpo e lapidado, até a dor ou as secreções do corpo.
Este Caeiro parece mais O pessoa ortónimo.
Obrigado pelos escolhas que nos oferece
Todas as escolhas foram boas!
Belas homenagens a quem a quem nos deixou a 13 de Junho.
Hoje caprichaste!
Abraço
Jorge
http://vagabundices.wordpress.com/
Dois "monstros" sagrados da nossa poesia.
Embora diferentes na sua essência. São ambos enormes na sua qualidade.
Um abraço
Pois...eu prefiro Pessoa.
E tem dias para cada um dos heterónimos...
Este Bairro continua muito Bom!
Abraço.
Papagueno,
Grata pela tua visita na minha viela.
Volta sempre.
Um abraço, fica bem
Boas escolhas. Boas escolas de escrita. Não sabia da data. E pensei em Pessoa hoje (ontem) todo o dia. Um beijinho.
"Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem"
que maravilha….*
e a imagem da borboleta é liiiinda….*
"os meus dias quebrados na cintura"....*
Belíssima homenagem a 2 poetas que gosto muito!:)
beijos
Belas escolhas em dia de homenagem! É sempre um prazer visitar este espaço. Jokitas.
Cada um a seu estilo, pura e simplemente magníficos. Não me canso de os (re)ler.
Deixo-te um beijinho e votos de um óptimo fim de semana
Aqui sente-se Cultura...
Bem hajas.
Bom Fim de Semana
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