segunda-feira, 30 de abril de 2007
AGUARELA
Pego numa aguarela
E desenho o mundo.
É só deixar o sonho entrar
E sou criança num segundo.
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu
Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul
Vou com ela viajando Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela branco navegando,
é tanto céu e mar num beijo azul
Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo, sereno e lindo
e se a gente quiser ele vai pousar
Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida
De uma América a outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega no muro
e ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida,
depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
de uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo (que descolorirá)
e com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo (que descolorirá)
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo (e descolorirá)
Composição: Toquinho/Vinicius de Moraes
domingo, 29 de abril de 2007
GOZO IX
de saliva tirando
toda a roupa...
já breves vêm os dias
dentro de noites já
poucas.
Que resta do nosso
gozo
se parares de me beijar?
Oh meu amor...
devagar...
até que eu fique louca!
Depois... não vejas o mar
afogado em minha
boca!
sábado, 28 de abril de 2007
AUDIOPOEMA; POEMARMA
Poema é uma arma.m... |
Como nem todos podem ler, desliguem a música em cima e disfrutem das palavras. Já o tinha postado nos tempos do Blog-City mas não neste formato.
POEMARMA
Que o poema tenha rodas motores alavancas
que seja máquina espectáculo cinema.
Que diga à estátua: sai do caminho que atravancas.
Que seja um autocarro em forma de poema.
Que o poema cante no cimo das chaminés
que se levante e faça o pino em cada praça
que diga quem eu sou e quem tu és
que não seja só mais um que passa.
Que o poema esprema a gema do seu tema
e seja apenas um teorema com dois braços.
Que o poema invente um novo estratagema
para escapar a quem lhe segue os passos.
Que o poema corra salte pule
que seja pulga e faça cócegas ao burguês
que o poema se vista subversivo de ganga azul
e vá explicar numa parede alguns porquês.
Que o poema se meta nos anúncios das cidades
que seja seta sinalização radar
que o poema cante em todas as idades
(que lindo!) no presente e no futuro o verbo amar.
Que o poema seja microfone e fale
uma noite destas de repente às três e tal
para que a lua estoire e o sono estale
e a gente acorde finalmente em Portugal.
Que o poema seja encontro onde era despedida.
Que participe. Comunique. E destrua
para sempre a distância entre a arte e a vida.
Que salte do papel para a página da rua.
Que seja experimentado muito mais que experimental
que tenha ideias sim mas também pernas.
E até se partir uma não faz mal:
antes de muletas que de asas eternas.
Que o poema assalte esta desordem ordenada
que chegue ao banco e grite: abaixo a pança!
Que faça ginástica militar aplicada
e não vá como vão todos para França.
Que o poema fique. E que ficando se aplique
a não criar barriga a não usar chinelos.
Que o poema seja um novo Infante Henrique
voltado para dentro. E sem castelos.
Que o poema vista de domingo cada dia
e atire foguetes para dentro do quotidiano.
Que o poema vista a prosa de poesia
ao menos uma vez em cada anos.
Que o poema faça um poeta de cada
funcionário já farto de funcionar.
Ah que de novo acorde no lusíada
a saudade do novo o desejo de achar.
Que o poema diga o que é preciso
que chegue disfarçado ao pé de ti
e aponte a terra que tu pisas e eu piso.
E que o poema diga: o longe é aqui.
Manuel Alegre
CORTO MALTESE
Navegar por esses mares, livre como um golfinho
e encarnar num Fernão de Magalhães ou um Mendes Pinto.
Queria perder-me na imensidão salgada, qual argonauta em busca do seu tosão de Ouro.
Vogar por aí em busca da fortuna, do amor ou só pela aventura.
Obrigado Hugo Pratt por me fazeres sonhar.
sexta-feira, 27 de abril de 2007
ROSTROPOVITCH, O ADEUS DE UM GÉNIO
Rostropovitch - Prelude de Bach
Colocado por yvon62100
Mstislav Rostropovich 1927-2007
Caía o muro de Berlim ele tocava Bach e lia-se nos olhos toda a emoção que lhe ia no peito.
Violoncelista genial, chegou a reger algumas das grandes orquestras mundiais e privou com grandes compositores como Chostakovitch ou Prokofiev. Acérrimo defensor dos direitos humanos, foi perseguido pelas autoridades soviéticas que o forçaram ao exílio por apoiar dissidentes do regime. Recentemente foi homenageado pelo seu octagésimo aniversário numa cerimónia no Kremlin presidida por Vladimir Putin.
Mstislav Rostropovitch, considerado um dos maiores violoncelistas do século XX, faleceu hoje víctima de cancro, tinha oitenta anos completados há um mês.
À TERRA
Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.
Na seara madura de amanhã
Sem fronteiras nem dono,
Há de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoula vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.
Mas das asas que agite,
O poema que cante
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que a tua força ressuscite!
Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.
Terra, minha aliada
Na criação!
Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!
E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto maduro de nós dois.
Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!
A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha, planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.
Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!
Miguel Torga
quinta-feira, 26 de abril de 2007
ÚLTIMO SONETO
Que rosas fugitivas foste ali:
Requeriam-te os tapetes – e vieste...
– Se me dói hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.
Em que seda de afagos me envolvi
Quando entraste, nas tardes que apareceste –
Como fui de percal quando me deste
Tua boca a beijar, que remordi...
Pensei que fosse o meu o teu cansaço –
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava...
E fugiste... Que importa ? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
Onde a minha saudade a Cor se trava?...
Paris - dezembro 1915
Mário de Sá-Carneiro
QUEM TE VIU E QUEM TE VÊ
Por falar em liberdade, hoje termino aqui com os posts políticos recordando este senhor que pelos vistos até vendia a mãezinha para chegar ao poder.
quarta-feira, 25 de abril de 2007
A DEMOCRACIA
Apesar dos governantes ineptos e dos atropelos sofridos, é sempre bom viver em liberdade.
A Democracia é o pior de todos os sistemas
Com excepçäo de todos os outros
Há muitos países que julgam
Que têm democracia, inclusivé
às vezes, o nosso
Mas encha-se de justiça o fosso
E erga-se a liberdade ao meio
Que só de intençöes
Está o inferno cheio
Näo há justiça sem liberdade
E o vice-versa é também verdade
E essa é a luta, no fundo
Pelos direitos humanos no mundo
A Democracia Sérgio Godinho (excerto)
terça-feira, 24 de abril de 2007
AMIGO
Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».
«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!
«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.
«Amigo» é a solidão derrotada!
«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O’Neill
In No Reino da Dinamarca
CASA COMIGO MARTA
Ele Doutor Dom Gaspar
Ela pobre e gaiata
Ele rico e tutelar
Gaspar tinha por Marta uma paixão sem par
Mas Marta estava farta mais que farta de o aturar
- Casa comigo Marta
Que estou morto por casar
- Casar contigo, não maganão
Não te metas comigo, deixa-me da mão
Casa comigo Marta
Tenho roupa a passajar
Tenho talheres de prata
Que estão todos por lavar
Tenho um faisão no forno e não sei cozinhar
Camisas, camisolas, lenços, fatos por passar
- Casa comigo Marta
Tenho roupa a passajar
- Casar contigo, não maganão
Não te metas comigo deixa-me da mão
Casa comigo Marta
Tenho acções e rendimentos
Tenho uma cama larga
Num dos meus apartamentos
Tenho ouro na Suíça e padrinhos aos centos
Empresto e hipoteco e transacciono investimentos
- Casa comigo Marta
Tenho acções e rendimentos
- Casar contigo, não maganão
Não te metas comigo deixa-me da mão
Casa comigo Marta
Tenho rédeas p'ra mandar
Tenho gente que trata
De me fazer respeitar
Tenho meios de sobra p'ra te nomear
Rainha dos pacóvios de aquém e além mar
- Casas comigo Marta
Que eu obrigo-te a casar
- Casar contigo, não maganão
Só me levas contigo dentro de um caixão
Letra Sérgio Godinho
Música: José Mário Branco
In: José Mário Branco "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"
segunda-feira, 23 de abril de 2007
PARA NÃO NOS ESQUECERMOS
Inspirado neste vídeo http://www.youtube.com/watch?v=5q6Ms1vvH6I
Visto no Tudo e Nada
Música: The Saints are Comming dos Skids aqui numa cover dos U2 com Greenday feita em benefício das víctimas do Katrina.
domingo, 22 de abril de 2007
ROMÂNTICA
Rasgaram as névoas
Que há pouco embrulhavam
As margens lendárias do rio Mondego;
As águas acordam
E ficam pasmadas
Reflectindo o azul da manhã radiante...
Sinto-me tão perto de tudo que é triste
Que os meus olhos sofrem
Com esta alegria - talvez provocante.
Coimbra, serena, mostra o seu contorno
Airosa e gentil - como fascinada
Na luz que é mais viva, difusa, doirada...
Tudo nela canta no alto silêncio
Das coisas divinas que falam do amor;
- Aqui, uma folha que tombou na aragem,
Mais além, uma flor...
Altiva -
Guarda na história dos tempos
A lembrança diluída
Dos seus romances guerreiros
Mesclados de sonho.
E a paisagem nua
Mais lúcida e bela,
Recortada e linda
Nesta claridade... - o dia floresce,
Aumenta - e as águas,
Translúcidas, verdes
- São verdes agora!
Ganham movimento,
Têm vibração,
Murmuram,
E passam
- Como aquela voz que encheu de saudade
O meu coração
António Botto
sábado, 21 de abril de 2007
THE PAN WITHIN
Come with me
On a journey beneath the skin
Come with me
On a journey under the skin
We will look together
For the pan within
Close your eyes
Breathe slow well begin
Close your eyes
Breathe slow and we will begin
To look together
For the pan within
Swing your hips
Loose your head, and let it spin
Swing your hips
Loose you head, and let it spin
And we will look together
For the pan within
Close your eyes
Breathe slow and we will begin
Close your eyes
Breathe slow and we will begin
To look together
For the pan within
Put your face in my window
Breathe a night full of treasures
The wind is delicious
Sweet and wild with the promise of pleasure
The stars are alive
And nights like these
Were born to be
Sanctified by you and me
Lovers, thieves, fools and pretenders
And all we gotta do is surrender
Come with me
On a journey under the skin
Come with me
On a journey under the skin
And we will look together
For the pan within
When to be with you
Is not a sin
When to be with you, oh just to be with you
Is not a sin
We will look together
For the pan within
The Waterboys
Ouvida no: Contrablog
SOU UM THINKING BLOGGER
domingo, 15 de abril de 2007
FÉRIAS FINALMENTE!
sábado, 14 de abril de 2007
O OLHAR DOS CEGOS
"O Olhar dos Cegos" e "A Memória das Lágrimas" duas magníficas exposições de Georges Pacheco patentes no Silo, espaço Cultural do Norte shopping no Porto.
"Cada exposição é constituída por 20 auto-retratos a preto e branco, nos quais as pessoas se revelam ao observador, retratadas com um cenário esvaziado de sentido, sem decoração e sem espelhos que vem focalizar a intensidade dramática em cada pessoa. Mais do que uma mera fotografia, cada “retrato-objecto” é um estudo psicológico.
Em ambas as exposições é anulada a apropriação do objecto pelo fotógrafo, que está aparentemente ausente, já que são as próprias pessoas retratadas que, através de um disparo único, se fixam em fotografia.
Idalina Pedrosa (© Georges Pacheco)
Em “O Olhar dos Cegos”, mais uma vez, foram os próprios invisuais que dispararam o comando, enquanto o fotógrafo os informava do sítio da câmara. Ao visitante é lhe dada a oportunidade de confrontar as máscaras, desmascaradas ou não dos invisuais com as suas “imagens-desejo”, captadas em registo áudio.
O trabalho de Georges Pacheco poderá ser visitado todos os dias entre as 13h00 e as 24h00, até ao dia 22 de Maio."
Texto roubado daqui: Ler Para Ver
Galeria: O OLHAR DOS CEGOS
Silo, Espaço Cultural, Norte Shopping, Porto
Piso 0, Rua 2 (entre as lojas 0.240 e 0.246)
Todos os dias das 13h00 às 24h00
Até 22 de Maio
CANTO SENTIDO
Nunca percebi como é que alguém consegue ficar indiferente, eu não consigo. Tenho que fazer um esforço para não me por a dançar, cantar ou fazer caretas senão pensam que eu sou louco.
Acho que os sons são como uma droga droga que activa no nosso cérebro as mais maravilhosas sensações de prazer e precisamos sempre de novas doses. Deve ser por isso que estou sempre a comprar discos.
É a ouvir este maravilhoso piano que viajo para fora do meu corpo e vou por aí voando pelos sonhos conhecendo mundos nunca antes vistos.
É bom ter a capacidade de sentir.
Imagens de quem sente a música: Elis Regina, Jacques Brel e "Uptown Piano Player" de Nicole Folkes.
sexta-feira, 13 de abril de 2007
A CRIANÇA QUE FUI CHORA NA ESTRADA
A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.
Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.
Fernando Pessoa
quinta-feira, 12 de abril de 2007
COM UMA AJUDINHA DOS MEUS AMIGOS
Ainda sobre os amigos na blogosfera queria só dizer que ontem "guardei um(a) amig(a) que é coisa que vale milhões, foi uma amizade muito especial que eu fiz aqui na blogosfera.
Mas hoje estou aqui só para dedicar este post a outra amiga, o blogue dela serviu muitas vezes de inspiração ao Bairro do Amor. Dedico este bela música dos Beatles à Wind do Web Club que, pelo que eu julgo saber, é fã do Lennon e dos Beatles.
Aproveito para pedir à Wind e à Kalinka que pensem melhor antes de interromperem ou mesmo fecharem os respectivos blogues. Eu sei que cada um tem a sua vida e os seus problemas mas vou sentir a vossa falta. Beijinho para vocês.
terça-feira, 10 de abril de 2007
segunda-feira, 9 de abril de 2007
ESTE LIVRO
Este livro. passa um dedo pela página, sente o papel
como se sentisses a pele do meu corpo, o meu rosto.
este livro tem palavras. esquece as palavras por
momentos. o que temos para dizer não pode ser dito.
sente o peso deste livro. o peso da minha mão sobre
a tua. damos as mãos quando seguras este livro.
não me perguntes quem sou. não me perguntes nada.
eu não sei responder a todas as perguntas do mundo.
pousa os lábios sobre a página. pousa os lábios sobre
o papel. devagar, muito devagar. vamos beijar-nos.
José Luis Peixoto
domingo, 8 de abril de 2007
NOITE ENLUARADA
A noite está enluarada enquanto é bela
Parece aquela que não pensa mais em mim
Dorme em seu leito, sossegada, e nem imagina
Que a minha sina é sofrer até o fim
Adoro ela desde o tempo de criança
Tenho esperança de findar-se o meu sofrer
Ainda tenho o prazer de abraçá-la
Hei de amá-la neste mundo até morrer.
Se está dormindo, meu amor, venha à janela
Que a noite é bela pra se ouvir o cantador
Eu fico triste quando canto e não te vejo
O meu desejo é gozar o teu amor
Por Deus, eu peço, não despreze quem te ama
Meu peito clama: Pra te amar foi que eu nasci!
Tu és a jovem que possui maior beleza
És a mais linda das mulheres que eu já vi.
Esta canção é uma prova de amizade
Sem falsidade eu nasci para te amar
Tu és a jovem que possui maior beleza
A natureza de um anjo a se formar
Por Deus, eu peço, não despreze quem te ama
Meu peito clama: Pra te amar foi que eu nasci!
Tu és a jovem que possui maior beleza
És a mais linda das mulheres que eu já vi.
Pato Fu
sexta-feira, 6 de abril de 2007
NOCTURNO
Uma corda de músculos e rosas.
Como se fosses noite e me deixasses
Deslumbrado com todas as sombras,
Com todos os silêncios,
Com todos os passeios de mãos dadas com o impossível,
Com todos os minutos,
Os lentos, os belos, os terríveis minutos
Que se escoam com a angústia nas escadas.
Como se fosses noite e acordasses
Todos os olhares furtivos aos bancos vazios,
Todos os passos hesitantes que ninguém segue
Mas que deixam na rua deserta,
Na cidade ausente,
O arabesco triunfal dum arcanjo que passa,
O rasto vitorioso dum condenado que dança,
Rindo dos deuses que o julgaram.
Como se fosses noite e arrastasses
O tule hierático e vermelho da cauda de todas as prostitutas
Que desafiam o mistério, roçagando,
A ganga de todos os operários
Que sofrem o mistério, fumando,
O cabeção ingénuo de todos os marujos
Que sonham o mistério, ondulando,
A renda esfarrapada, esvoaçante e preciosa de todos os invertidos
Que inventam o mistério, desesperando,
E a carne, o sangue,
O cheiro a suor e a sono de todos os vadios,
De todos os ladrões que dormem nas esquadras
E têm o mistério, ousando!
Ah! Se tu fosses noite e me atirasses
A um poço de membros e de raiva
Onde plantas carnívoras crescessem
E onde Deus - se existisse - talvez me abrisse os braços!
José Carlos Ary dos Santos
PÁSCOA FELIZ A TODOS!
quinta-feira, 5 de abril de 2007
KURT COBAIN
NÃO TE QUERO SENÃO PORQUE TE QUERO
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.
Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.
Pablo Neruda
terça-feira, 3 de abril de 2007
ÁGUAS DE ABRIL
O Março já lá vai mas as águas ficaram. Uma recordação, escrevi sobre este álbum no meu segundo post públicado no antigo Bairro do Amor. Lindo de se ver dois dos maiores "monstros" da MPB.
Delícioso ver como eles se divertem
segunda-feira, 2 de abril de 2007
FERRARIS EM SINTRA
TU CHORAVAS...
Tu choravas e eu ia apagando
com os meus beijos os rastos das tuas lágrimas
– riscos na areia mole e quente do teu rosto.
Choravas como quem se procura.
E eu descobria mundos, inventava nomes,
enquanto ia espremendo com as mãos
o meu sangue todo no teu sangue.
Não sei se o mundo existia e nós existíamos realmente.
Sei que tudo estava suspenso,
esperando não sei que grave acontecimento,
e que milhares de insectos paravam e zumbiam nos
meus sentidos.
Só a minha boca era uma abelha inquieta
percorrendo e picando o teu corpo de beijos.
Depois só dei pela manhã,
a manhã atrevida
entrando devagar, muito devagar e acordando-me.
Desviei os meus olhos para ti :
ao longo do teu corpo morriam as estrelas.
A noite partira. E, lentamente,
o sol rompeu no céu da tua boca.
Albano Martins
Foto. Stanmarek
Elis Regina - É com esse que eu vou (TV Cultura)
As canções, as palavras, aquele sorriso lindo de quem sente a música e , sobretudo, a voz.
É por isso que eu digo: TE AMO ELIS!
domingo, 1 de abril de 2007
DESESPERO
Nem este corpo exausto que despi
Nem os lábios sedentos que poisaram
No mais secreto do que existe em ti.
Não eram meus os dedos que tocaram
Tua falsa beleza, em que não vi
Mais que os vícios que um dia me geraram
E me perseguem desde que nasci.
Não fui eu que te quis. E não sou eu
Que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto,
Possesso desta raiva que me deu
A grande solidão que de ti espero.
A voz com que te chamo é o desencanto
E o espermen que te dou, o desespero
José Carlos Ary dos Santos