quinta-feira, 22 de novembro de 2007

NARCISO

Narciso
Caravaggio (1571-1610)

Dentro de mim me quis eu ver. Tremia,
Dobrado em dois sobre o meu próprio poço...
Ah, que terrível face e que arcabouço
Este meu corpo lânguido escondia!

Ó boca tumular, cerrada e fria,
Cujo silêncio esfíngico eu bem ouço!...
Ó lindos olhos sôfregos, de moço,
Numa fronte a suar melancolia!...

Assim me desejei nestas imagens.
Meus poemas requintados e selvagens,
O meu Desejo os sulca de vermelho:

Que eu vivo à espera dessa noite estranha,
Noite de amor em que me goze e tenha,
... Lá no fundo do poço em que me espelho!

José Régio

3 comentários:

Anônimo disse...

Bela escolha, uma verdadeira obra de arte total a conjugação deste teu post...
Um Abraço e Bom Fim de Semana, já que vou de viagem...

João Roque disse...

Caravaggio e Régio. Quem diriam que ligariam tão bem'
Mérito também teu, amigo Papagueno.
Abraço.

avelaneiraflorida disse...

AMIGO,PAPAGUENO!!!!!!

COMO NÃO PODERIA DEIXAR DE SER!!!!!
MAIS UM LINDISSIMO POST!!!!

Tanto a pintura de Caravaggio como o intenso sentir de Régio se reflectem uma no outro e vice versa!
LINDO!!!!!
BOM FIM DE SEMANA!!!!!
BJKS