sexta-feira, 13 de abril de 2007

A CRIANÇA QUE FUI CHORA NA ESTRADA


A CRIANÇA QUE FUI CHORA NA ESTRADA

A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.
Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

Fernando Pessoa

10 comentários:

Maria Romeiras disse...

Papagueno, não se postam melancolias belas logo pela manhã...

Também eu queria ser a criança de ontem hoje ainda. Que escolha bonita. Também a fotografia.

Adorei. Beijinho.

Mário Margaride disse...

Papagueno, este poema de Pessoa. Faz lembrar um outro menino, que também chorou, numa enorme estrada, que teve que percorrer.

Belo poema escolheste amigo!

Bom fim de semana

Um abraço

papagueno disse...

Mário, todos nós temos as nossas estradas feitas de lágrimas.

Olá Mary, Sempre as saudades da infancia não é? Vivam os adultos que não deixam de ser crianças. A foto concordo, é linda!

JFA disse...

Um bom poema. Ainda que um pouco melancólico.

Boa fotografia.

Anônimo disse...

Grande música meu amigo. Fizeste-me renascer com este som. Obrigado. Um abraço
Bom Fim de Semana

papagueno disse...

Eu sabia que ias gostar Ludovicus.

É assim Link, mas como diz a Mary "melancolias belas".

Anônimo disse...

Gostar sempre Meu Amigo :-)

Nothingandall disse...

Pois poeta é aquele que consegue traduzir melhor por palavras aquilo que sentimos e não sabemos descrever. Fernando Pessoa um grande poeta. Pois é, o bébé infelizmente morreu ... e eu até preferia não ter tido os pensamentos que tive... Vá-se lá questionar os desígnios de Deus. Enfim...
Votos de um belo fim de semana.

ANTONIO DELGADO disse...

A infancia é esse espaço onde a fantasia existe. é o cantinho onde me refugio quando o sonho é impossivel. Bom fim de semana
Antonio

Unknown disse...

baudelaire dizia que a nossa pátria é a nossa infância. Há cerca de 12 anos decorei este poema para as famosas provas de aferição. Só hoje, depois de fazer um fim-de-semana de psicologia gestaltica sobre os pais, pude compreender, finalmente, porque este poema me marcou tanto e resume a minha vida.