
Foram descobertos os dois últimos gays do Irão.
Foto: Graça Loureiro, Olhares.com
O Teu Riso
Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
Agua Sexual
Rodando a goterones solos,
a gotas como dientes,
a espesos goterones de mermelada y sangre,
rodando a goterones
cae el agua,
como una espada en gotas,
como un desgarrador río de vidrio,
cae mordiendo,
golpeando el eje de la simetría, pegando en las costuras del alma,
rompiendo cosas abandonadas, empapando lo oscuro.
Solamente es un soplo, más húmedo que el llanto,
un líquido, un sudor, un aceite sin nombre,
un movimiento agudo,
haciéndose, espesándose,
cae el agua,
a goterones lentos,
hacia su mar, hacia su seco océano,
hacia su ola sin agua.
Veo el verano extenso, y un estertor saliendo de un granero,
bodegas, cigarras,
poblaciones, estímulos,
habitaciones, niñas
durmiendo con las manos en el corazón,
soñando con bandidos, con incendios,
veo barcos,
veo árboles de médula
erizados como gatos rabiosos,
veo sangre, puñales y medias de mujer,
y pelos de hombre,
veo camas, veo corredores donde grita una virgen,
veo frazadas y órganos y hoteles.
Veo los sueños sigilosos,
admito los postreros días,
y también los orígenes, y también los recuerdos,
como un párpado atrozmente levantado a la fuerza
estoy mirando.
Y entonces hay este sonido:
un ruido rojo de huesos,
un pegarse de carne,
y piernas amarillas como espigas juntándose.
Yo escucho entre el disparo de los besos,
escucho, sacudido entre respiraciones y sollozos.
Estoy mirando, oyendo,
con la mitad del alma en el mar y la mitad del alma en la tierra,
y con las dos mitades del alma miro el mundo.
Y aunque cierre los ojos y me cubra el corazón enteramente,
veo caer agua sorda,
a goterones sordos.
Es como un huracán de gelatina,
como una catarata de espermas y medusas.
Veo correr un arco iris turbio.
Veo pasar sus aguas a través de los huesos.
"É um inimigo do Regime. Dir-lhe-á mal de mim; mas não importa: é um grande escritor."
António de Oliveira Salazar
É sempre com muito cansaço e alguma nostalgia que saio da Festa do Avante. Cansaço por três dias de festa sempre muito intensos, nostalgia porque o fim da festa marca também o fim do verão e a partir daqui é pensar em trabalho e nas loucuras para o próximo ano.
Este ano foi interessante a idéia de marcar um encontro de bloguistas na Festa. Foi bom conhecer algumas caras que estão por trás das palavras que lemos, o problema é que no ambiente do Avante, no meio de tanta gente estas iniciativas não são fáceis e aos poucos o grupo foi-se dispersando na multidão. Uma palavra para a Maçã de Junho, a autora da iniciativa.
Como sempre, um dos meus pousos preferidos é a Área Internacional. Gosto de vaguear por lá e experimentar as bebidas tradicionais dos vários países. Desde o Vino Pisco do Chile ao Limoncello italiano passando pelo Grogue de Cabo Verde. Quanto à comida sempre dá para matar saudades da cozinha africana. No meu caso, por motivos afectivos, é a comida angolana que mais me atrai e este ano a moamba nem estava nada mal. Quando se cozinha para muita gente nunca há tempo para grandes caprichos.
O outro lado bom da festa é o convívio. Tivémos a oportunidade de conversar com gente de várias regiões de Espanha, do Chile e até com um timorense que mal conseguíamos compreender.
Os portugueses trouxeram o chá do oriente e foi mesmo uma raínha portuguesa, que na corte de CarlosII introduziu o chá em Inglaterra. Para nós um chá não passa de um saquinho de ervas que se mete num bule com água a ferver. Para o povo do Sahara o chá faz parte da cultura e prepará-lo implica uma série de demorados rituais. Foi numa improvisada tenda que pela primeira vez vi como se prepara um chá de menta. Acreditem que não tem nada a ver com o meter um saquinho em água a ferver.
Fotos: Papagueno