segunda-feira, 24 de setembro de 2007

NERUDA

Foto: Graça Loureiro, Olhares.com


O Teu Riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.



Agua Sexual

Rodando a goterones solos,
a gotas como dientes,
a espesos goterones de mermelada y sangre,
rodando a goterones
cae el agua,
como una espada en gotas,
como un desgarrador río de vidrio,
cae mordiendo,
golpeando el eje de la simetría, pegando en las costuras del alma,
rompiendo cosas abandonadas, empapando lo oscuro.

Solamente es un soplo, más húmedo que el llanto,
un líquido, un sudor, un aceite sin nombre,
un movimiento agudo,
haciéndose, espesándose,
cae el agua,
a goterones lentos,
hacia su mar, hacia su seco océano,
hacia su ola sin agua.

Veo el verano extenso, y un estertor saliendo de un granero,
bodegas, cigarras,
poblaciones, estímulos,
habitaciones, niñas
durmiendo con las manos en el corazón,
soñando con bandidos, con incendios,
veo barcos,
veo árboles de médula
erizados como gatos rabiosos,
veo sangre, puñales y medias de mujer,
y pelos de hombre,
veo camas, veo corredores donde grita una virgen,
veo frazadas y órganos y hoteles.

Veo los sueños sigilosos,
admito los postreros días,
y también los orígenes, y también los recuerdos,
como un párpado atrozmente levantado a la fuerza
estoy mirando.

Y entonces hay este sonido:
un ruido rojo de huesos,
un pegarse de carne,
y piernas amarillas como espigas juntándose.
Yo escucho entre el disparo de los besos,
escucho, sacudido entre respiraciones y sollozos.

Estoy mirando, oyendo,
con la mitad del alma en el mar y la mitad del alma en la tierra,
y con las dos mitades del alma miro el mundo.

Y aunque cierre los ojos y me cubra el corazón enteramente,
veo caer agua sorda,
a goterones sordos.
Es como un huracán de gelatina,
como una catarata de espermas y medusas.
Veo correr un arco iris turbio.
Veo pasar sus aguas a través de los huesos.


Com um dia de atraso, aqui fica a minha homenagem a Pablo Neruda, pelos 34 anos da sua morte.

13 comentários:

Anônimo disse...

Homenagem merecida meu amigo. Um Mestre.
Um Abraço

Anônimo disse...

Amar o riso porque o sorriso não basta.
Que contraste entre o 1º e o 3º!!!

wind disse...

O "meu" Pablito:)
Bela homenagem:)
Beijos

Maria del Sol disse...

A homenagem que faltava depois de na televisão ter passado "O Carteiro de Pablo Neruda".
Intemporal, apaixonado e apaixonante :)

RIC disse...

Ah, que bem me soube esta leitura, este breve momento de uma grande evasão!
Obrigado, meu caro! :-)

Fátima disse...

MUITO BOM!

Boa escolha.

:-) beijinhos

Mário Margaride disse...

Amigo Papagueno.

Ando um pouco ausente. Mas não esquecido.

Portanto aqui estou: A juntar-me a esta homenagem a Pablo Neruda.

Um abraço

Anônimo disse...

Excelente homenagem a um grande homem e escritor. O mundo poderia estar mais enriquecido se cultiva-se as palavras e os sentimentos partilhados.
Enfim, é norma só olharmos com olhos de ver depois de não podermos dizer de viva voz... Parabéns, belíssimas palavras.

A. Jorge disse...

Mais um "Monstro Sagrado" que aqui trazes.
Este blog vale ouro, de tantas preciosidades que tem!

Abraço

Jorge

http://vagabundices.wordpress.com/

avelaneiraflorida disse...

Amigo Papaguemo,

Neruda diz o que nem sequer os nossos sentidos conseguem traduzir...
Belíssimas escolhas...
Tenho deixado alguns posts com poemas dele porque não consigo estar muito tempo afastada de o revisitar...
UM RESTO DE BOA NOITE!!!!
BJKS

Gi disse...

Neruda toca-me especialmente e mais ainda quando dito a sua língua de origem. Por muito boa que seja a tradução dá sempre a sensação que causa mais impacto. Dita então nem se fala. Percorre-nos um arrepio.

Muito boas as tuas escolhas. mas isso não é de estranhar :)

beijinhos


(porque é que me passam ao lado todas (ou quase odas) estas datas? sou mesmo desatenta caramba :)

mais beijinhos :)

Verena Sánchez Doering disse...

que bello homenaje le haces a Neruda, si amigo hace 34 años que ya no esta pero sus poemas siguen vivos
te dejo muchos cariños y que estes muy bien amigo, gracias por tu compañia
mil besitos


besos y sueños

João Roque disse...

Bela homenagem a um escritor "que não morreu".