sábado, 19 de janeiro de 2008

AS PALAVRAS INTERDITAS



"As Palavras Interditas" nos 85 anos do nascimento do escritor.

Os navios existem e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.
Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.
Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E abrem-se janelas
mostrando a brancura das cortinas.
As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas minhas curvas claras.
Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
e estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.
E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens vivas, desenhadas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade

3 comentários:

wind disse...

Bela homenagem e vou-te roubar o vídeo já sabes para onde:)
Beijos

avelaneiraflorida disse...

AH,amigo Papagueno, o meu EUGÉNIO!!!!

Vou recordá-lo, SIM!!!!
"BRIGADOS" pela lembrança e pela homenagem que aqui fica!!!!!
Bjkas!!!

paulo disse...

Fantástico. Não conhecia a montagem do vídeo. Gosto muito do poema, não gosto muito da voz do Viegas, mas é só uma questão de gosto :)