segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O MUNDO COMPLETO


Estes gestos de vento,
estas palavras duras como a noite,
estes silêncios falsos,
estes olhares de raiva a apertarem as mãos,
estas sombras de ódio a morderem os lábios,
estes corpos marcados pelas unhas!. . .

Esta ternura inventando desejos na distância,
esta lembrança a projectar caminhos,
este cansaço a retratar as horas!...

Amamo-nos. Sem lírios
sobre os braços,
sem riachos na voz,
sem miragens nos olhos.

Amamo-nos no arame farpado,
no fumo dos cigarros,
na luz dos candeeiros públicos.

O nosso amor anda pela rua
misturado ao buzinar dos carros,
ao relento e à chuva.

O nosso amor é que brilha na noite
quando as estrelas morrem no céu dos aviões.

António Rebordão Navarro
Imagem: Piotr Kowalik

5 comentários:

Anônimo disse...

também o amor é uma nacarada teia de aranha?

Anônimo disse...

Gostei do poema...o amor, o amor...
Um Abraço e Boa semana

Maria Romeiras disse...

Brilhos. Faz sentido. O amor faz sentido. E sim, os aviões e os candeeiros da rua matam as estrelas. É preciso ter sensibilidade para o importante, para o essencial, para os brilhos de dentro de nós. Gostei muito. Um beijo.

avelaneiraflorida disse...

E O BRILHO torna-se INTENSO mesmo na mais completa escuridão!!!!

Lindissimo poema!!!!

Bjkas, AMIGO!

wind disse...

Belo poema!
Beijos