quarta-feira, 10 de setembro de 2008

ESTÁDIO DE CHILE

Bombardeamento do Palácio La Moneda, durante o golpe de estado de 1973

Somos cinco mil
nesta pequena parte da cidade.
Somos cinco mil,
quantos seremos no total,
nas cidades e em todo o país?
Só aqui dez mil mãos que semeiam
e fazem andar as fábricas.

Quanta humanidade,
com fome, frio, pânico, dor
pressão moral, terror e loucura!

Seis de nós se perderam
no espaço das estrelas.

Um morto, um espancado como jamais imaginei
que se pudesse espancar um ser humano.
Os outros quatro quiseram livrar-se de todos os temores
um saltando no vazio,
outro batendo a cabeça contra a parede,
mas todos com o olhar fixo da morte.

Que espanto causa o rosto do fascismo!
Levam a cabo os seus planos com precisão fantástica,
sem que nada lhes importe.
O sangue, para eles, são medalhas.
A matança é acto de heroísmo.
É este o mundo que criaste, meu Deus?
Para isso os teus sete dias de assombro e trabalho?
Nestas quatro muralhas só existe um número
que não cresce
e que lentamente quererá mais a morte.

Mas prontamente me golpeia a consciência
e vejo esta maré sem pulsar,
mas com o pulsar das máquinas
e os militares mostrando seu rosto de matrona,
cheio de doçura.

E o México, Cuba e o mundo?
Que gritem esta ignomínia!
Somos dez mil mãos a menos
que não produzem.
Quantos somos em toda a pátria?

O sangue do companheiro Presidente
golpeia mais forte que bombas e metralhas.
Assim o nosso punho golpeará novamente.


Como me sai mal o canto
quando tenho que cantar o espanto!
Espanto como o que vivo
como o que morro, espanto.
De ver-me entre tantos e tantos
momentos do infinito
em que o silêncio e o grito
são as metas deste canto.
O que vejo nunca vi,
O que tenho sentido e o que sinto
Fará brotar o momento...”

Victor Jara (Estádio de Chile, 1973)

Poema escrito pelo cantor chileno Victor Jara, durante a sua prisão no Estádio Chile, improvisado campo de concentração, montado pelos militares golpistas de Pinochet, após o golpe de 11 de Setembro.

5 comentários:

João Roque disse...

Este "outro" 11 de Setembro parece ter sido esquecido...infelizmente; fizeste bem em recordá-lo.
Abraço.

pin gente disse...

uns dias substituem outros... os media disso se encarregam! esquecer uns para lembrar outros.

há dias que têm que ser lembrados para que não se esqueça a cobardia, a tortura, o matar da liberdade.


um beijo
luísa

wind disse...

Triste realidade este poema descreve.
Beijos

Anônimo disse...

Boa tarde, ainda bem que há quem recorde a barbárie que foi esse 11 de Setembro,uns esquecem outros branqueiam....Obrigado pela lembrança,a liberdade também é lembrança, muito obrigado

BF disse...

No meu pequenino gerupo de bloguistas há dois que estão sempre atentos a estas datas para nada passar.... Tu e a Maria(O Cheiro da ILha)
Ninguém deveria esquecer

Beijocas
BF