Francesca da Rimini and Paolo Malatesta (1819)
Jean Auguste Ingres(1780-1867)
E ela a mim: «Nenhuma maior dor
do que a de recordar tempo feliz
já na miséria; e o sabe o teu doutor.
Mas tu, se em conhecer qual a raiz
primeira deste amor, pões tal afeito,
di-lo-ei como quem chora em quanto diz.
Um dia a ler com ele me deleito,
de Lançarote, o amor como o prendeu:
Éramos sós e nada a nós suspeito.
Várias vezes o olhar nos suspendeu
essa leitura e deu pálido aviso;
mas foi um ponto só que nos venceu.
Quando lemos do desejado riso
a ser beijado por tão grande amante,
e este, que de mim seja indiviso,
a boca me beijou todo anelante.
Galeoto foi o livro e quem o disse:
nesse dia não lemos adiante.»
Como um espírito isto referisse,
chorava o outro, e em mim tal pena vi
que foi qual se a morrer eu me sentisse;
e como um corpo morto assim caí.
Dante
"A Divina Comédia", tradução de Vasco Graça Moura, Círculo de Leitores)
Gianciotto discovers Paolo and Francesca (1814)
Jean Auguste Ingres (1780-1867)
Este excerto do poema de Dante refere-se ao amor trágico entre Francesca da Polenta e Paolo Malatesta.
Francesca(1255—1285), era filha de Guido da Polenta(?-1297), senhor de Rimini. Durante muitos anos a família Polenta andou em guerra contra o poderoso Verruchio de Malatesta(1212–1312). A paz foi firmada com um acordo de casamento entre Francesca e o filho mais velho de Malatesta, Giovanni, também conhecido por Gianciotto(?-1304).
Consta que Giovanni, além de feio e disforme, era também cocho. Havia então o receio que a família Polenta recusasse o casamento mal visse a cara do noivo. Foi então enviado Paolo de Malatesta, irmão mais novo de Giovanni, para tratar dos assuntos do casamento. Pensando que o seu noivo seria Paolo, a jovem acedeu em casar. Quando deu pelo erro já era tarde, estava casada e apaixonada pelo cunhado.
Um dia, estando a jovem Francesca lendo um livro sobre os amores proíbidos entre Lancelot, Cavaleiro da Távola Redonda e Guinevere, esposa do Rei Artur, entrou Paolo que lhe interrompeu a leitura com um apaixonado beijo.
Nesse momento são surpreendidos por Giovanni que, louco de ciúmes, mata os dois.
7 comentários:
A minha admiração por Dante é óbvia, ou não tivesse sido ele a descrever este inferno como ninguém! eheheh!!
Aquele abraço infernal!
Amigo Papagueno,
um bonito post (como é esperado!!!!) e uma (mais uma!) trágica história de Amor!!!
Dos clássicos recebemos exemplos vários da luta entre o Amor e os outros sentimentos...
E se as palavras são pungentes, não menos as reproduções dos artistas deixam transparecer alguma "ingenuidade" no seu tratamento!!!!
Belas escolhas!!!
Bjkas111
Confesso que não conhecia:))
Estamos sempre a aprender e obrigada pela partilha:)
Beijos
Desconhecia, completamente a existência deste " naif" quadro do Ingres( Ele devia ser muito novo quando o pintou)??
A Divina Comédia!!!
A minha avô Piemontesa, era uma "expert" em Dante, e fazia palestras, sobre ele, também aqui em Portugal, ouvi várias, e fui decorando trechos, é maravilhoso!!!
No fim da vida a minha avó, sabia a Divina Comédia, TODA de memória, era lindo ouvi-la!
Mais uma vez, de facto uma bela escolha!
Um abraço
Belzebu: Nem podia ser outra coisa.
Um abraço.
Avelaneira: A história está cheia destes trágicos romances de amor. Sem eles nunca teria havido Shakespeare ou as óperas de Puccini e Verdi.
Beijos
Wind: Também já aprendi muito sobre poesia no teu cantinho.
Beijos
Mandillo: Todo o post gira á volta dos quadros de Ingres. Se reparares com atenção, são dois quadros diferentes, não apenas um.
As diferenças não são muitas e há uma diferença de 5 anos entre os dois.
Beijos
Papagueno, eu já tinha reparado que eram dois quadros e não só um...
São lindos, mas não estava habituada a ver quadros do Ingres, como estes.
Na realidade ele começou a pintar segundo sei aos quinze anos, por isso penso que estes quadros serão de uma fase " Jovem" dele....?!? Mesmo que tenham uma diferença de 5 anos...
beijo
Vai muito atrasado...
mas valeu a pena ter aqui passado ;-)
Isto era (ainda será?) um amor de Bairro! Uma Amorosa aldeia, mais idílica que a verdadeira e até que a dita de Amor, sim senhor!
E é que ao reparar no título... está trocado (como aquele amor esteve): ela é a Francesca e ele é o Paolo (o MalaTesta).
Parabéns!
zeka
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