Tardes da minha terra, doce encanto,
Tardes duma pureza de açucenas,
Tardes de sonho, as tardes de novenas,
Tardes de Portugal, as tardes d’Anto,
Como eu vos quero e amo! Tanto! Tanto!...
Horas benditas, leves como penas,
Horas de fumo e cinza, horas serenas,
Minhas horas de dor em que eu sou santo!
Fecho as pálpebras roxas, quase pretas,
Que poisam sobre duas violetas,
Asas leves cansadas de voar...
E a minha boca tem uns beijos mudos...
E as minhas mãos, uns pálidos veludos,
Traçam gestos de sonho pelo ar...
Florbela Espanca
Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?
Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai! não mo disse ninguém.
Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.
Almeida Garrett
XXVI
Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.
Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.
Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!
Alberto Caeiro
No meio do rebuliço da cidade, é sempre bom ter um sítio para relaxar.
7 comentários:
Gostei das fotografias e também dos poemas, mas estes já os conhecia.
Já agora uma referência à música do post anterior, que eu conhecia, mas não nesta versão. è sempre bom ir ao baú das memórias.
Abraço do Zé
Só para deixar um beijito!
Olá amigo Papagueno,
Passei pelo blogue e gostei de ouvir Le Temps des Cerises. Sempre é um prazer passar por aqui.
Abraço
3 belos poemas sobre o mesmo tema:)
Beijos
Olá Papagueno,
Numa tarde ventosa de Maio, de sol escondido e envergonhado, bato à porta dos meus amigos, matando saudades, deixando gestos de carinho.
A forma como hoje fui recebida neste teu Bairro do Amor é das mais ternas que conheço. Com a beleza que não é mas se sente e vive, a poesia da alma sofrida mas viva e a esperança que não morre, sentimentos todos eles vertidos nas palavras poéticas de Florbela Espanca, Almeida Garrett e Alberto Caeiro, ofereces-nos um presente ímpar que, associado au "Temp des Cerises", nos deixa pairando pela beleza da vida.
Obrigado amigo.
Como sempre, foi um grande prazer esta visita.
Beijo amigo e Bom Fim de Semana.
Amigo Papagueno,
nesta imensa correria...sabe tão bem encontrar a tranquilidade deste bairro!!!!
Brigados por esta partilha!!!!
Bjkas em velocidade!!!!
(Para no perder la costumbre)En español: Pessoa... sus heterónimos , gracias por compartir su poesía y tan bellas imágenes!!
Encantador blog
Se le abraza desde un lugar muy lejano.
Muito obrigado!! (inevitable)
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